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A pecuária é a maior causa do desmatamento tropical na Amazônia – e no mundo.
Um estudo descobriu que alguns dos maiores matadouros do mundo reduziram o desmatamento causado pelo gado na Amazônia em 15% – o equivalente a poupar 7.000 km2 de floresta desde o desmatamento (4,5 vezes o tamanho de Londres) – por meio de seu compromisso com políticas de desmatamento zero entre 2010 e 2018.
Se essas políticas fossem totalmente implementadas e adotadas em todas as empresas de gado que operam na Amazônia, 24.000km2 de floresta (uma área maior que o País de Gales) poderia ter sido poupada ao longo desse tempo, efetivamente reduzindo pela metade o desmatamento causado pelo gado no Brasil.
O desmatamento é o segundo maior contribuinte para as emissões globais de gases de efeito estufa depois do uso de combustíveis fósseis, e a Amazônia brasileira é o ponto crítico do desmatamento no mundo.
Compromissos de desmatamento zero são políticas da cadeia de suprimentos que visam garantir que a produção de bens não envolva desmatamento, identificando e descartando fornecedores que produzem em áreas recentemente desmatadas de vegetação natural. Os compromissos foram assinados por muitos dos principais varejistas de carne bovina do Reino Unido, incluindo os supermercados Tesco, Sainsbury’s e Waitrose.
Embora o Reino Unido tenha importado 60 milhões de toneladas de carne bovina brasileira em 2017, de acordo com a National Beef Association, o Reino Unido é 75% autossuficiente em carne bovina. Muitas empresas britânicas estão se afastando cada vez mais da carne bovina brasileira devido ao risco percebido de desmatamento. Mas os pesquisadores argumentam que esta não é a melhor abordagem.
“Podemos beneficiar o clima comendo menos carne em geral. Mas quando se trata de desmatamento, a solução não é evitar a carne de países específicos – porque assim perdemos nosso poder de fazer a diferença nesses lugares”, disse o professor Rachael Garrett, Professor Moran de Conservação e Desenvolvimento no Instituto de Pesquisa em Conservação da Universidade de Cambridge, autor sênior do relatório.
Ela acrescentou: “Se comermos carne bovina importada, devemos comprá-la de varejistas que estão tentando melhorar os sistemas de produção de gado no Brasil e em outros lugares. impacto positivo no planeta ao reduzir o desmatamento.”
Os resultados são publicados hoje na revista Mudança Ambiental Global.
Devido à complexidade das cadeias de abastecimento brasileiras e à disponibilidade incompleta de registros públicos, tem sido um desafio até agora determinar quanto do gado em uma determinada região estava sendo comprado por empresas com compromissos de desmatamento zero. Isso impediu os esforços para analisar a eficácia das políticas de desmatamento zero ligadas à carne bovina e artigos de couro – como sapatos e bolsas.
Os pesquisadores traçaram as ligações entre regiões agrícolas, frigoríficos e empresas com compromissos de desmatamento zero no setor pecuário da Amazônia brasileira, para ver como essas ligações influenciaram o desmatamento.
Um acordo chamado G4 é o compromisso de desmatamento zero para o gado mais difundido e fortemente implementado na Amazônia brasileira – respondendo por mais de 99% das exportações de gado. O estudo se concentrou nas empresas que adotaram o Acordo G4 e descobriu que elas estavam associadas a reduções substanciais no desmatamento.
“Mostramos que as políticas de desmatamento zero estão tendo um impacto importante – e mensurável – na proteção das florestas e que, com adoção ampla e implementação rigorosa, elas podem alcançar muito mais”, disse Garrett.
Ela acrescentou: “Mesmo reduzir o desmatamento em 15% é uma quantia enorme. Mas esse resultado mostra que as políticas da cadeia de suprimentos têm limitações significativas e precisamos combiná-las com abordagens mais visionárias para ajudar países como o Brasil a melhorar seus sistemas agrícolas”.
Os pesquisadores dizem que é necessária uma combinação de intervenções dos setores público e privado para melhorar as práticas de criação de gado e ajudar a eliminar o desmatamento em países como o Brasil.
As intervenções do setor público podem incluir apoio a atividades econômicas alternativas e incentivos financeiros ou maior pressão do governo brasileiro para evitar o desmatamento.
“Com essa evidência, os supermercados podem usar sua influência para ajudar a melhorar a produção de gado brasileira. Mas é preciso fazer mais para melhorar o rigor das políticas corporativas e a cobertura de mercado dos adotantes de políticas, mesmo em regiões relativamente bem cobertas, como a Amazônia brasileira ”, disse Sam Levy, da ETH Zurich e da Universidade de Nova York, principal autor do relatório.
A produção de gado para corte e couro é a causa de mais de 70% de todo o desmatamento na Amazônia – grande parte do qual é ilegal. Os compromissos de desmatamento zero cobrem 82% da carne bovina exportada da Amazônia brasileira para o comércio internacional – mas uma grande quantidade de produção de carne bovina destinada aos mercados domésticos do Brasil não é coberta.
O desmatamento causa a perda de diversos animais e plantas, ameaça os meios de subsistência de grupos indígenas e aumenta a desigualdade e os conflitos.
Em 2021, a Declaração dos Líderes COP26 de Glasgow sobre Florestas e Uso da Terra comprometeu-se a interromper e reverter o desmatamento até 2030. Foi assinada por mais de 100 países, representando 85% das florestas globais.
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