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Argélia sedia primeira cúpula da Liga Árabe desde acordos de normalização com Israel

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Líderes árabes se reúnem na capital argelina na terça-feira para sua primeira cúpula desde uma série de acordos de normalização com Israel que dividiram a região.

Desde a última cúpula da Liga Árabe em 2019, vários membros do bloco de 22 membros – durante décadas um fórum para declarações estridentes de apoio à causa palestina – normalizaram os laços com o Estado judeu.

Os Emirados Árabes Unidos foram os primeiros em um acordo histórico mediado pelos EUA que tornou o país o terceiro estado árabe, depois do Egito e da Jordânia, a estabelecer laços plenos com Israel.

A medida dos Emirados Árabes Unidos desencadeou acordos semelhantes com Bahrein e Marrocos – e um acordo provisório com o Sudão – aprofundando a rivalidade de décadas do Marrocos com sua vizinha Argélia.

O anfitrião da cúpula na terça e quarta-feira continua sendo um firme defensor dos palestinos, até mesmo mediando um acordo de reconciliação em outubro entre as facções palestinas rivais Fatah e Hamas.

Embora poucos acreditem que o acordo vai durar, ele foi visto como um golpe de relações públicas para a Argélia, que vem buscando mais influência regional devido ao seu crescente status de exportador de gás.

A cúpula desta semana será outra oportunidade para o presidente Abdelmadjid Tebboune fazer exatamente isso.

Ele estendeu o tapete vermelho para seus convidados, a quem será apresentado em um suntuoso jantar de abertura na terça-feira às 18h (17h GMT).

Charme ofensivo

As principais estradas de Argel foram enfeitadas com bandeiras árabes e enormes outdoors dando as boas-vindas aos “irmãos árabes”.

“A política externa da Argélia passou à ofensiva nos níveis regional, africano e árabe”, disse o especialista em Genebra Hasni Abidi.

Mas a Argélia também ficou nervosa com a cooperação de segurança e defesa do Marrocos com Israel, somando-se a décadas de desconfiança alimentadas por uma disputa sobre o Saara Ocidental.

O status do Saara Ocidental – uma ex-colônia espanhola considerada um “território não autônomo” pelas Nações Unidas – colocou Marrocos contra a Frente Polisario, apoiada pela Argélia, desde a década de 1970.

Em agosto de 2021, Argel cortou relações diplomáticas com Rabat alegando “atos hostis”.

Os participantes da cúpula enfrentam o desafio de formular uma resolução final, que deve ser aprovada por unanimidade.

Com conflitos na Síria, Líbia e Iêmen também na agenda, fontes dizem que os ministros das Relações Exteriores estão tentando chegar a um consenso sobre as palavras em torno da “interferência” turca e iraniana na região – e se devem mencionar Ancara e Teerã pelo nome ou não.

“O paradoxo desta cúpula é que ela está sendo anunciada como um evento unificador, enquanto cada estado árabe realmente tem sua própria agenda e objetivos que atendem aos seus interesses”, disse Abidi.

“Então, em última análise, a Liga Árabe é o espelho perfeito da política externa árabe.”

Esse ponto é sublinhado pela ausência de várias figuras-chave, principalmente o príncipe herdeiro saudita Mohamed bin Salman, que relatou ter uma infecção no ouvido, e o rei do Marrocos, Mohammed VI.

Os líderes dos Emirados Árabes Unidos e do Bahrein também ficarão de fora, segundo a mídia árabe.

“Os estados árabes que se normalizaram com Israel não estão entusiasmados com a ideia de se unirem para condenar sua posição”, disse Abidi.

“O movimento de Tebboune para colocar a questão palestina na frente e no centro não os tranquilizou”, disse ele.

A adesão da Síria

Outra fonte de controvérsia foram os esforços da Argélia para trazer o regime do presidente sírio Bashar al-Assad de volta à Liga Árabe, uma década depois de sua adesão ter sido suspensa em meio a uma repressão brutal aos protestos inspirados na Primavera Árabe de 2011.

Abidi disse que convidar a Síria para a cúpula teria sido “altamente arriscado”.

“A Argélia percebeu as consequências de tal presença na cúpula. Junto com Damasco, desistiu de sua iniciativa”, disse ele.

Pierre Boussel, da Fundação para Pesquisa Estratégica da França (FRS), disse que o retorno da Síria à Liga é apoiado pela Rússia, aliada de Argel e Damasco.

Mas, disse ele, “a Rússia decidiu não tentar forçar isso de uma maneira que afetaria suas relações com os países árabes já bastante escaldados pelo impacto econômico do conflito ucraniano”.

Os importadores de commodities, principalmente Marrocos, Tunísia, Egito e Sudão, foram especialmente atingidos pela alta dos preços, mesmo quando os países árabes produtores de energia viram seus cofres aumentarem.

Boussel disse que a “onda de choque” da guerra na Ucrânia, que interrompeu as principais importações de grãos para a região do Mar Negro, estava sendo sentida em Argel.

“Dada a escassez de cereais, a inflação em alta e as preocupações com as novas rotas energéticas, a Liga Árabe precisa mostrar que é capaz de coesão e solidariedade interestatal, que faltava desde o início da crise”, disse.

O chefe da Liga Árabe, Ahmed Aboul Gheit, pediu na sexta-feira uma “visão árabe integrada” para enfrentar os desafios urgentes da segurança alimentar.

(AFP)

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