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Pesquisadores estão usando cocô de macaco para aprender como uma espécie ameaçada escolhe seus parceiros – Strong The One

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Os muriquis do norte, que vivem na Mata Atlântica do Brasil, são uma das espécies de macacos mais ameaçadas do mundo. Escolher bons parceiros e criar descendentes prósperos são a chave para a sobrevivência da espécie a longo prazo.

Para entender melhor o que acontece na vida de acasalamento dos muriquis, pesquisadores da Universidade do Texas em Austin e da Universidade de Wisconsin-Madison recorreram ao cocô dos macacos para ajudar a entender como os primatas escolhem seus parceiros.

Em um artigo publicado em 2 de agosto na revista Anais da Royal Society Bos cientistas combinaram análises genéticas com observações comportamentais de longo prazo para entender melhor os padrões reprodutivos do muriqui ameaçado de extinção.

Ao contrário da maioria dos primatas, os muriquis vivem em sociedades pacíficas e igualitárias, cujo núcleo é formado por machos aparentados e suas mães. Karen Strier, professora de antropologia na UW-Madison e coautora do artigo, passou 40 anos estudando o comportamento e a ecologia desses macacos em uma pequena porção preservada da floresta brasileira. Ela e sua equipe sabem como identificar cada macaco individualmente e com quem eles estão relacionados. Isso também significa que ela sabe dizer de quem é o cocô de quem.

Ela e sua equipe coletaram amostras e as forneceram a Anthony Di Fiore, professor de antropologia e diretor do Primate Molecular Ecology and Evolution Lab na UT Austin, e Paulo Chaves, então aluno de pós-graduação de Di Fiore. Eles usaram as amostras fecais (entre as melhores amostras não invasivas que puderam coletar) como fonte de DNA para analisar o comportamento de acasalamento dos muriquis por meio de dados genéticos.

Como a equipe de campo de Strier sabia qual amostra pertencia a quem, a equipe de pesquisa pôde fazer perguntas genéticas únicas.

“Eu sabia por observações comportamentais que havia falta de competição no acasalamento e que as mães não acasalavam com seus filhos ou parentes masculinos próximos. Mas a única maneira de saber quem são os pais é com a genética”, diz Strier.

A partir de sua análise de laboratório, Chaves e Di Fiore confirmaram que não houve pares mãe-filho, o que sugere que os muriquis podem reconhecer seus parentes, permitindo-lhes evitar o acasalamento incestuoso. Eles também descobriram que as fêmeas tendem a se reproduzir com machos que possuem um conjunto mais diversificado de genes que codificam moléculas que desempenham um papel importante na resposta imune do corpo a patógenos e outros estressores ambientais.

Essa interessante classe de genes é chamada de complexo principal de histocompatibilidade (MHC), e Chaves e Di Fiore foram capazes de caracterizar a variação genética entre macacos individuais.

“Nossa descoberta de que os touros machos têm maior diversidade de MHC do que o esperado por acaso é uma das coisas que esperaríamos se essa diversidade contribuísse para a aptidão masculina ou fosse uma das dimensões da escolha do parceiro feminino”, disse Di Fiore.

A aptidão masculina, neste caso, refere-se à capacidade de um parceiro masculino de fornecer à prole genes que lhes darão a melhor chance de sobrevivência. Ter diversidade em seus genes MHC também pode dar à prole mais proteção contra patógenos e estressores ambientais, o que é evolutivamente vantajoso, explica Strier. Teoricamente, então, uma fêmea deveria escolher machos que não apenas tivessem alta diversidade de MHC, mas também tivessem genes de MHC diferentes dos dela.

No entanto, a análise genética mostrou que, embora as fêmeas pareçam escolher parceiros com maior diversidade de MHC em geral, elas não estavam necessariamente escolhendo machos com variantes genéticas diferentes das suas.

“Nosso estudo é um dos poucos que analisaram a relação entre a variação do MHC e os padrões reprodutivos em primatas selvagens e é o único a fazê-lo para uma espécie igualitária como o muriqui”, diz Di Fiore.

Strier diz que a parceria com Di Fiore e Chaves foi emocionante e acrescenta força para corroborar suas observações. Suas descobertas também levantaram uma série de questões que os pesquisadores esperam abordar em futuras colaborações.

Chaves, principal autor do estudo, veio para os EUA para estudar genética molecular com Di Fiore em uma bolsa de prestígio do governo brasileiro. Depois de concluir seu trabalho de laboratório, Chaves voltou ao Brasil e conseguiu um cargo público como geneticista forense no governo do estado de Goiás.

Em seguida, a equipe espera investigar que outros fatores, além da diversidade de MHC, podem influenciar a escolha de machos e fêmeas de muriqui e dar à prole a melhor chance de sobrevivência.

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