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Mais de 3 milhões de quilômetros quadrados do habitat histórico do elefante asiático foram perdidos em apenas três séculos, revela um novo relatório de uma equipe científica internacional liderada por um pesquisador da Universidade da Califórnia em San Diego. Esse declínio dramático pode estar por trás dos conflitos atuais entre elefantes e pessoas, argumentam os autores.
Desenvolvendo novos insights a partir de um conjunto de dados único que modela a mudança no uso da terra ao longo de 13 séculos, uma equipe de pesquisa liderada pelo novo membro do corpo docente da UC San Diego, Shermin de Silva, descobriu que habitats adequados para elefantes asiáticos foram cortados em quase dois terços no passado. 300 anos.
O maior animal terrestre vivo da Ásia, os elefantes asiáticos ameaçados de extinção habitavam pastagens e ecossistemas de florestas tropicais que outrora cobriam a largura do continente. Analisando dados de uso da terra dos anos 850 a 2015, os pesquisadores descrevem na revista Relatórios Científicos uma situação preocupante em que eles estimam que mais de 64% do habitat histórico adequado para elefantes em toda a Ásia foi perdido. Enquanto os habitats dos elefantes permaneceram relativamente estáveis antes de 1700, as práticas de uso da terra da era colonial na Ásia, incluindo extração de madeira, cultivo e agricultura, reduziram o tamanho médio do habitat em mais de 80%, de 99.000 para 16.000 quilômetros quadrados.
O estudo também sugere que as populações de elefantes remanescentes hoje podem não ter áreas de habitat adequadas. Embora 100% da área dentro de 100 quilômetros da atual área de distribuição dos elefantes fosse considerada um habitat adequado em 1700, a proporção caiu para menos de 50% em 2015. Isso cria um alto potencial de conflitos com pessoas que vivem nessas áreas como elefantes. as populações alteram seu comportamento e se ajustam a espaços mais dominados por humanos.
“Nos anos 1600 e 1700, há evidências de uma mudança dramática no uso da terra, não apenas na Ásia, mas globalmente”, disse Silva, professor assistente do Departamento de Ecologia, Comportamento e Evolução da Escola de Ciências Biológicas e fundador da organização sem fins lucrativos Trunks & Leaves. “Em todo o mundo, vemos uma transformação realmente dramática que tem consequências que persistem até hoje.”
Também contribuíram para o estudo pesquisadores de todo o mundo, incluindo o Smithsonian’s National Zoo and Conservation Biology Institute, University of Nottingham Malaysia, Frankfurt Zoological Society, Vietnam National University of Forestry, Wild Earth Allies, Zoological Society of London e Colby College.
“Este estudo tem implicações importantes para a nossa compreensão da história das paisagens de elefantes na Ásia e também estabelece as bases para uma melhor compreensão e modelagem do futuro potencial das paisagens de elefantes”, disse Philip Nyhus, professor de Estudos Ambientais no Colby College e um dos coautores do estudo.
Além de Nyhus, três alunos de graduação da Colby contribuíram para o estudo. “Este foi um esforço colaborativo e multi-institucional”, acrescentou Nyhus, “e fiquei orgulhoso de que os alunos da Colby contribuíram significativamente para os modelos e análises usados no estudo”.
Além do impacto imediato sobre os elefantes asiáticos, o estudo oferece os resultados como um mecanismo para avaliar as práticas de uso da terra e estratégias de conservação muito necessárias para todos os habitantes da área.
“Estamos usando os elefantes como indicadores para observar o impacto da mudança no uso da terra nesses diversos ecossistemas em uma escala de tempo mais longa”, disse de Silva.
Os impactos humanos que levam a reduções nas faixas de habitat de várias espécies de mamíferos terrestres foram bem documentados no passado recente. Acredita-se também que a mudança climática tenha acelerado esse declínio ao longo do século passado. Mas avaliar o impacto de tais mudanças na vida selvagem a longo prazo tem sido difícil de estudar devido à falta de registros históricos.
As descobertas recém-publicadas foram baseadas em informações do conjunto de dados Land-Use Harmonization (LUH), produzido por pesquisadores da Universidade de Maryland. O conjunto de dados fornece reconstruções históricas de vários tipos de uso da terra – incluindo florestas, plantações, pastagens e outros tipos – que remontam ao século IX.
“Usamos locais atuais onde sabemos que há elefantes, juntamente com as características ambientais correspondentes com base nos conjuntos de dados LUH, para inferir onde existiram habitats semelhantes no passado”, disse de Silva. “Para construirmos uma sociedade mais justa e sustentável, temos que entender a história de como chegamos até aqui. Este estudo é um passo para esse entendimento.”
A equipe de pesquisa observa que o alcance histórico dos elefantes provavelmente se estendeu muito além das áreas protegidas, que são de tamanho insuficiente para sustentar as populações de elefantes na Ásia. Incluem terras sob sistemas tradicionais de manejo que foram alterados nos últimos três séculos. A perda dessas práticas tradicionais, sugerem os autores, pode ser uma das principais razões por trás da perda de habitat.
Muito mais trabalho, argumentam os autores, é necessário para entender as possíveis mudanças que esses habitats enfrentarão no futuro. Considerando as pessoas – junto com a vida selvagem – nas fronteiras das zonas de conflito entre elefantes e humanos, os pesquisadores alertam que as tentativas de restauração do habitat precisam ser guiadas sob um cálculo de justiça social e ambiental para comunidades historicamente marginalizadas.
“Explorar a relação entre as práticas de manejo da terra no passado e as distribuições dos ecossistemas de elefantes seria uma direção útil para estudos futuros sob a perspectiva da política ecológica e social”, observam eles no relatório.
A lista completa de autores do estudo inclui: Shermin de Silva, Tiffany Wu, Philip Nyhus, Ashley Weaver, Alison Thieme, Josiah Johnson, Jamie Wadey, Alexander Mossbrucker, Thinh Vu, Thy Neang, Becky Shu Chen, Melissa Songer e Peter Leimgruber.
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