Estudos/Pesquisa

Os sinais inflamatórios da depressão na adolescência diferem entre meninos e meninas

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Uma nova pesquisa liderada pelo Instituto de Psiquiatria, Psicologia e Neurociência (IoPPN) do King’s College London descobriu que a depressão e o risco de depressão estão ligados a diferentes proteínas inflamatórias em meninos e meninas.

Quando ocorre inflamação no corpo, uma série de proteínas são liberadas no sangue chamadas citocinas. Pesquisas anteriores mostraram que níveis mais elevados de citocinas estão associados à depressão em adultos, mas pouco se sabe sobre esta relação na adolescência.

Os pesquisadores investigaram as diferenças sexuais na relação entre proteínas inflamatórias e depressão. Publicado no Jornal de transtornos afetivos, o estudo descobriu que diferentes citocinas estavam implicadas no risco e na gravidade da depressão em meninos em comparação com meninas. A pesquisa fez parte do projeto IDEA (Identificando a Depressão no Início da Adolescência), financiado pela MQ Mental Health Research.

Para avaliar a inflamação, os pesquisadores mediram os níveis de citocinas no sangue em 75 meninos adolescentes e 75 meninas adolescentes (com idades entre 14 e 16 anos) do Brasil. Os 150 participantes foram recrutados em três grupos com números iguais (50 participantes em cada grupo: 25 meninas e 25 meninos). Os grupos eram aqueles com baixo risco de depressão e não deprimidos, aqueles com alto risco de depressão e não deprimidos, e aqueles que atualmente sofrem de transtorno depressivo maior (TDM).

Os resultados indicaram que existem diferenças sexuais entre as proteínas inflamatórias individuais que estão associadas à depressão em adolescentes. Níveis mais elevados da citocina interleucina-2 (IL-2) foram associados ao aumento do risco de depressão e à gravidade dos sintomas depressivos em meninos, mas não em meninas. No entanto, níveis mais elevados de IL-6 foram associados à gravidade da depressão nas meninas, mas não nos meninos. Nos rapazes, os níveis de IL-2 foram mais elevados no grupo de alto risco do que no grupo de baixo risco e ainda mais elevados no grupo com diagnóstico de depressão, indicando que nos rapazes os níveis de IL-2 no sangue podem ajudar a indicar o início de depressão futura. .

Dr. Zuzanna Zajkowska, pesquisadora de pós-doutorado na King’s IoPPN e primeira autora do estudo, disse:

“Este é o primeiro estudo a mostrar diferenças entre meninos e meninas nos padrões de inflamação que estão ligados ao risco e ao desenvolvimento de depressão na adolescência. Descobrimos que a gravidade dos sintomas depressivos estava associada ao aumento dos níveis da citocina interleucina-2 em meninos, mas interleucina-6 em meninas. Sabemos que mais meninas adolescentes desenvolvem depressão do que meninos e que o distúrbio segue um curso diferente dependendo do sexo, por isso esperamos que nossas descobertas nos permitam entender melhor por que existem essas diferenças e, em última análise, ajudar a desenvolver tratamentos mais direcionados para diferentes sexos biológicos.”

Os pesquisadores recrutaram adolescentes de escolas públicas do Brasil. O risco de depressão foi avaliado por um escore de risco composto para depressão baseado em 11 variáveis ​​sociodemográficas que foram desenvolvidas como parte do projeto IDEA. Os adolescentes preencheram vários questionários, relatando suas dificuldades emocionais, relacionamentos, experiências e humor. Eles também completaram uma avaliação clínica com um psiquiatra de crianças e adolescentes.

A autora sênior do estudo, Professora Valeria Mondelli, Professora Clínica de Psiconeuroimunologia no King’s IoPPN e líder do tema para Psicose e Transtornos do Humor no NIHR Maudsley BRC, disse:

“Nossas descobertas sugerem que a inflamação e o sexo biológico podem ter uma contribuição combinada para o risco de depressão. Sabemos que a adolescência é um momento chave quando muitos transtornos mentais se desenvolvem pela primeira vez e identificando quais proteínas inflamatórias estão ligadas à depressão e como isso é diferente entre os meninos e meninas, esperamos que nossas descobertas possam abrir caminho para a compreensão do que acontece neste momento crítico da vida. Nossa pesquisa destaca a importância de considerar o impacto combinado da biologia, da psicologia e de fatores sociais para compreender os mecanismos subjacentes à depressão.”

O estudo faz parte do projeto Identificando Depressão no Início da Adolescência (IDEA), liderado pela professora Valeria Mondelli no King’s IoPPN e financiado pela MQ Mental Health Research. O projeto IDEA está investigando como fatores culturais, sociais, genéticos e ambientais levam ao desenvolvimento de depressão em jovens de 10 a 24 anos no Reino Unido, Brasil, Nigéria, Nepal, Nova Zelândia e EUA.

O estudo recebeu apoio da instituição de caridade MQ Mental Health Research, do UK Medical Research Council e da Academy of Medical Sciences. A professora Valeria Mondelli é apoiada pelo Instituto Nacional de Pesquisa em Saúde e Cuidados (NIHR), Maudsley Biomedical Research Centre no sul de Londres e Maudsley NHS Foundation Trust e King’s College London e pelo Medical Research Council.

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