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A pequena equipe de profissionais de saúde pública do estado vasculhava peças de automóveis espalhadas em um ferro-velho no Rio de Janeiro, em busca de água parada onde os mosquitos pudessem ter posto ovos.
Estas fizeram parte de um esforço nacional para conter o aumento da dengue transmitida por mosquitos no Brasil durante a principal temporada turística do país, que vai até o final de fevereiro.
Paulo Cesar Gomez, entomologista de 56 anos, encontrou algumas larvas de mosquito nadando em águas rasas da chuva dentro do para-choque do carro.
Rio de Janeiro declarou emergência sanitária por dengue dias antes do início do carnaval
“Chamamos esse tipo de local de ponto estratégico”, disse ele, pela alta rotatividade de itens próximos a cada local. “É difícil não ter mosquitos aqui.”
No início deste mês, poucos dias antes do Rio iniciar as celebrações do Carnaval mundialmente famoso, a cidade juntou-se a vários estados e à capital do país ao declarar uma pandemia de saúde pública devido ao número de casos de dengue acima do normal este ano.
“Tivemos mais casos em janeiro do que em qualquer outro janeiro”, disse Ethel Maciel, chefe de vigilância sanitária do Ministério da Saúde do Brasil, em entrevista à Associated Press.
Até o momento neste ano, o Brasil registrou 512 mil casos em todo o país, incluindo casos confirmados e prováveis – quase quatro vezes os registrados no mesmo período do ano passado.
Houve 425 mortes por dengue investigadas até agora neste ano, com 75 mortes confirmadas, em comparação com pouco mais de 1.000 mortes em todo o ano de 2023.
A dengue é uma infecção viral transmitida aos humanos através da picada de um mosquito infectado. As chuvas frequentes e as altas temperaturas, que aceleram a eclosão dos ovos dos mosquitos e o desenvolvimento das larvas, tornam a cidade do Rio, notoriamente quente, particularmente vulnerável a surtos.
Muitas pessoas infectadas nunca desenvolvem sintomas, mas a dengue pode causar febre alta, dor de cabeça, dores no corpo, náuseas e erupções na pele, segundo a Organização Mundial da Saúde. Embora a maioria melhore após cerca de uma semana, alguns desenvolvem uma forma grave que requer hospitalização e pode ser fatal.
Profissionais de saúde como Gomez, equipados com máscaras e luvas de plástico, vasculharam meticulosamente o ferro-velho numa manhã quente, chutando e sacudindo suavemente as peças acumuladas dos carros em busca de qualquer vestígio do mosquito Aedes aegypti, que pode espalhar a dengue.
Sempre que Gomez via água parada, tirava uma pipeta da bolsa e procurava larvas, que coletava em um recipiente de plástico branco. Os mosquitos e larvas capturados são mantidos vivos e levados ao laboratório da cidade para serem testados para dengue.
Nos locais onde os testes são positivos, os profissionais de saúde pulverizam as paredes com um produto que mata os mosquitos e depois monitorizam o local durante semanas.
Maciel, do Ministério da Saúde, disse que o primeiro alerta sobre a possível propagação da epidemia veio em setembro.
O principal instituto de pesquisa do Brasil, a Fundação Oswaldo Cruz, ou Fiocruz, financiada pelo estado, apresentou vários cenários que sugerem que o Brasil poderia ter até 4,2 milhões de casos este ano, contra 1,6 milhão em 2023.
Maciel disse que este aumento se deve ao calor excessivo e às fortes chuvas, ambos possíveis efeitos das mudanças climáticas ou do El Niño, um aquecimento natural, temporário e episódico de parte do Oceano Pacífico que altera os padrões climáticos em todo o mundo.
Maciel também observou que quatro sorotipos do vírus da dengue circulavam ao mesmo tempo, um dos quais as autoridades não viam há 15 anos.
No Rio, autoridades de saúde afirmam que mais de 80% dos criadouros do mosquito estão em propriedades residenciais. Os esforços para combater a dengue devem começar nas residências e a conscientização é fundamental, disse Mario Sergio Ribeiro, oficial de vigilância sanitária do estado do Rio de Janeiro.
As autoridades estaduais lançaram a iniciativa “10 Minutos Salvam Vidas” para incentivar os residentes a inspecionar as suas casas, escritórios e locais de culto em busca de água parada.
Profissionais de saúde e voluntários foram de porta em porta, andando para cima e para baixo nas ruas estreitas do bairro operário de Tabagara, ou favela, no Rio, para espalhar a notícia. Eles distribuíram panfletos e subiram nos telhados em busca de recipientes para água da chuva.
Entenda a gravidade da dengue transmitida por mosquitos
Uma idosa, Velza da Costa, disse à Associated Press que acreditava ter contraído a doença.
“Começou com febre, depois meu corpo ficou todo coçando, fraco e com muita dor. Eu estava muito mal”, disse ela. “Há muitos mosquitos aqui.”
Durante o carnaval, que terminou na quarta-feira, as equipes de saúde receberam os visitantes com repelentes gratuitos. Uma caminhonete carregando um mosquito gigante e as palavras “Contra a Dengue Todos os Dias” abriu e encerrou comícios durante várias noites, para milhões de telespectadores verem.
O impacto do carnaval só será conhecido dentro de uma semana, disse Maciel. Embora a dengue não seja transmitida de pessoa para pessoa, o aumento do turismo pode aumentar a propagação da doença para locais não afetados.
Maciel disse que não está claro se os casos atingiram o pico e agora “começarão a diminuir, ou se o pior cenário já está acontecendo”.
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