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Eles tentam andar como sombras, como se pensassem que eram invisíveis, pelas arcadas de um mercado de rua em Sfax, a capital comercial da Tunísia. Os guineenses Ibrahim Galisa, de 33 anos, e os primos Mamadu, de 25, e Mayette, de 23, já tentaram fugir de barco daquela cidade portuária que se transformou em prisão a céu aberto para mais de 10 mil subsaarianos, presos em suas caminho para a imigração clandestina para a Europa. Mayette era confeiteira na Guiné Conacri. “Não tenho medo de embarcar novamente para Lampedusa, aqui já estamos mortos em vida”, resigna-se depois de seis meses à deriva em Sfax, 270 quilômetros ao sul de Túnis. Ibrahim, líder do grupo familiar, já foi duas vezes ao mar em um ano e meio. “Por menos de 2.000 euros não arranjas quem te leve, mesmo que seja eu a fazer o barco com chapas metálicas”, avisa este mecânico-soldador. Mamadu, um eletricista, acena com a cabeça ao lado dele enquanto observa um veículo da polícia passar ao longe. Ele está no país árabe há quase um ano. “Temos que sair de qualquer jeito, não há futuro na Guiné e nem na Tunísia”, argumenta entre centenas de negros africanos que vagam tentando passar despercebidos em uma sociedade que os rejeita abertamente.
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