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A nova onda de sanções após a invasão da Ucrânia deu novo fôlego ao conceito de autossuficiência tecnológica, com o governo da Rússia lançando várias iniciativas para criar substitutos domésticos para eletrônicos estrangeiros, plataformas online e software, dos quais muitas empresas russas dependem .
Mais de mil empresas de tecnologia interromperam ou reduziram suas operações na Rússia após a invasão da Ucrânia. Em apenas um mês, Cisco, SAP, Oracle, IBM, TSMC, Nokia e Ericsson, além de Samsung e Apple, deixaram o mercado, afetando setores inteiros, incluindo operadoras móveis, fábricas, startups e grandes empresas estatais. De acordo com a IDC, uma empresa global de análise de mercado, o mercado russo de TI em 2022 encolheu US$ 12,1 bilhões, ou 39%.
O primeiro-ministro russo, Mikhail Mishustin, disse em fevereiro que a Rússia quer substituir 85% do software estrangeiro por substitutos russos, abrindo dezenas dos chamados centros de substituição de importações. Entre eles está um projeto de criação de um sistema operacional nacional para aparelhos. O plano, no entanto, está em um estágio inicial, sem nenhum roteiro à vista, diz Kazaryan, do Internet Research Institute.
“Atualmente, alguns grandes players estão tentando cortejar o governo para obter subsídios para criar dispositivos no ‘sistema operacional móvel nacional’, seja lá o que for”, diz ele.
Uma das alternativas mais promissoras para o Android é o Aurora OS, um sistema operacional para smartphone baseado em Linux fabricado pela empresa de telecomunicações estatal russa Rostelecom. Mas o Aurora foi feito principalmente para uso do governo e não oferece suporte a aplicativos Android. Em dezembro, o governo russo se recusou a alocar qualquer um dos 22 bilhões de rublos (US$ 292,1 milhões) destinados ao desenvolvimento do sistema operacional russo.
Outros fabricantes russos de smartphones, como a BQ, prometeram adaptar o HarmonyOS da Huawei para seus aparelhos. Mas não houve notícias de progresso desde o anúncio da BQ em setembro. A Huawei, com sede na China, desenvolveu seu próprio sistema operacional em 2019, depois que o Google parou de fornecer seu conjunto de serviços de software móvel para a empresa por causa das sanções comerciais dos EUA. A gigante chinesa de TI disse que não tem planos de lançar telefones celulares equipados com HarmonyOS fora da China.
A luta da Huawei para competir fora da China mostra que é difícil para uma marca de smartphone conquistar compradores sem acesso aos serviços do Google. A Huawei perdeu quase um terço de sua receita em 2020, um ano após as sanções cortarem seu acesso ao Google Maps, Gmail e outros aplicativos comuns do Google. O maior obstáculo que o novo smartphone da NCC pode enfrentar, no entanto, são os telefones baratos e prontamente disponíveis da China.
Os dados da Counterpoint mostram que os telefones da Xiaomi, Realme e Honor, uma marca de baixo custo anteriormente de propriedade da Huawei, substituíram os iPhones e dispositivos Samsung Galaxy que já foram os mais vendidos, respondendo por 95% do mercado no ano passado.
“Ainda há muita concorrência”, diz Stryjak da Counterpoint. “Não acho que haja uma grande lacuna no mercado para um novo jogador.”
Outros telefones russos, o mais famoso Yotaphone, tentaram capturar o mercado doméstico, mas permaneceram em uma escala muito pequena, diz Stryjak. Os russos preferem marcas que já conhecem. Graças ao comércio paralelo – importação de mercadorias sem a permissão do fabricante – até mesmo Samsungs e iPhones ainda estão disponíveis no país. A NCC diz que pretende precificar seus smartphones entre 10.000 e 30.000 rublos (US$ 132 e US$ 398).
“Estamos considerando várias opções. Isso pode ser produção em fábricas russas ou fabricação por contrato em empresas chinesas”, disse Kalinin, da NCC, à mídia local. O NCC não respondeu ao pedido de comentário da Strong The One.
Outros fabricantes de smartphones russos, como a Smartekosistema, de propriedade da gigante estatal Rostec, descobriram que não conseguiram adquirir os chips necessários da TSMC para a segunda iteração de seu aparelho, o AYYA T2. Tudo isso pode tornar a criação de concorrentes russos para Samsung ou Apple muito cara.
“Você provavelmente pode fazer um smartphone na Rússia com peças chinesas, mas não é muito eficiente”, diz Kazaryan. “E por que alguém compraria um telefone russo que é mais caro que o Xiaomi?”
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