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Os partidos políticos afirmam regularmente ter o dedo no pulso e serem capazes de ler o humor do público. No entanto, um novo estudo desafia a ideia de que ser político o torna bom em entender os outros: mostra que o gênero, não a política, é um fator muito mais importante na determinação das habilidades sociais das pessoas.
A análise de uma amostra de 4.000 pessoas de todo o Reino Unido, compilada por uma equipe de psicólogos da Universidade de Bath, destaca que ser mulher e ter educação são os maiores determinantes para saber se você pode entender ou ler a mente dos outros.
Para o estudo, os psicólogos analisaram as qualidades associadas à compreensão dos outros, como a amabilidade, a percepção de pistas sutis e a autorreflexão. Em psicologia, isso é conhecido como ‘teoria da mente’: a capacidade de compreender outras pessoas atribuindo-lhes estados mentais.
A equipe enfatiza que esses resultados representam médias, mas dizem que o estudo é um lembrete importante sobre os motivadores de acordo e desacordo na vida pública. Suas descobertas foram publicadas hoje (quarta-feira, 24 de junho) na revista PLOS Um.
A idade só foi associada à compreensão dos outros na vida adulta: em média, as pessoas mais velhas tinham menos capacidade de compreender outras pessoas.
Punit Shah, autor sênior, professor associado e especialista líder em processamento cognitivo social da Universidade de Bath, explica: “Em um mundo onde parece cada vez mais difícil manter e expressar diferentes pontos de vista, é crucial que entendamos as barreiras para conectando-se com outras pessoas.
“Visões políticas são muitas vezes consideradas como uma barreira, mas nossa pesquisa mostra que a política de uma pessoa não está, de fato, ligada a quão bem ela entende os outros.
“É importante ressaltar que não encontramos apenas a ausência de evidências de um vínculo político no estudo. As análises também forneceram evidências da ausência desse vínculo. Esta é uma descoberta socialmente importante que pode ajudar a quebrar algumas barreiras construídas artificialmente entre as pessoas. e, finalmente, melhorar a compreensão entre diferentes pessoas em nossa sociedade.”
Shah argumenta que a ligação entre ser educada e mulher e entender melhor outras perspectivas também é importante.
Ele acrescenta: “Historicamente, as perspectivas masculinas foram priorizadas na sociedade. É claro que estamos vendo essa narrativa diminuir ao longo do tempo, e pesquisas como a nossa adicionam evidências extras para destacar o importante papel da educação e de ser mulher para a compreensão social e a coesão na sociedade – muito mais do que a política.”
Para conduzir a pesquisa, a equipe pediu ao público que fornecesse detalhes sobre seu histórico sociodemográfico, bem como pontuasse suas crenças políticas (variando de 1 = muito liberal a 7 = muito conservador). Eles também usaram um ‘teste de leitura mental’ para verificar o quão bem os participantes entenderam o que as outras pessoas estão pensando.
Este teste – desenvolvido pela mesma equipe em 2021 – pede uma série de afirmações simples, como: ‘Geralmente consigo entender o ponto de vista de outra pessoa, mesmo que seja diferente do meu’; e ‘Acho fácil me colocar no lugar de outra pessoa’.
A pesquisadora principal, Rachel Clutterbuck, enfatizou que essas descobertas podem melhorar nossa compreensão das diferenças sociais entre as pessoas: “As razões pelas quais algumas pessoas são melhores em entender outras não são bem compreendidas, mas esta pesquisa fornece um vislumbre de algumas diferenças individuais, como gênero, o que pode ajudar a explicar essas diferenças sociais.
“Nossos resultados são novos porque o estudo considerou muitos fatores – como gênero, educação, idade e política – em conjunto, em vez de analisá-los separadamente, como costuma acontecer. Quando fazemos isso, fica claro que gênero está, de longe, mais fortemente ligada a quão bem os outros são compreendidos. Esta descoberta destaca a complexidade da vida social e nos lembra de considerar os vários fatores que podem contribuir para entender e se dar bem com alguém.”
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