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O caso do misterioso desaparecimento (e reaparecimento) dos queixadas da América Latina – Strong The One

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Um estudo colaborativo publicado em PLO UM, documenta o desaparecimento periódico (e reaparecimento) de queixadas em nove países da América do Sul e Central. Os autores dizem que as flutuações populacionais podem representar o primeiro caso documentado de ciclicidade populacional natural em um mamífero neotropical.

O estudo é liderado pelo Departamento de Zoologia da Universidade de Brasília e co-autoria de mais de 20 outras organizações, incluindo a Wildlife Conservation Society (WCS).

queixadas de lábios brancos (Tayassu pecari) são mamíferos ungulados semelhantes a porcos nativos das florestas tropicais da América Central e do Sul. São extremamente sociais, formando grandes rebanhos de até centenas de animais. Pesquisadores de queixadas do México à Amazônia ficaram intrigados com o súbito desaparecimento de populações de queixadas em grandes áreas, bem como relatos de desaparecimentos anteriores e reaparecimento subsequente.

O estudo mostra que em ciclos populacionais de 20 a 30 anos, os desaparecimentos representam vales de sete a doze anos quando os pecaris desaparecem. Estes podem ocorrer simultaneamente em escalas espaciais regionais e talvez continentais tão grandes quanto 10.000-5 milhões de quilômetros quadrados (3.861-1,9 milhões de milhas quadradas).

O estudo sugere que os misteriosos desaparecimentos podem ser desencadeados por populações crescendo demais, e os acidentes provavelmente são facilitados por diferentes causas, incluindo surtos de doenças, e ressalta a necessidade de mais estudos de longo prazo para entender melhor as causas.

O estudo inovador, que conta com colaboração e trabalho de detetive para documentar 43 desaparecimentos diferentes em 38 locais em nove países, também incorpora 88 anos de dados de colheita comercial e de subsistência da Amazônia. Confirma que essa espécie pouco conhecida, tão importante ecologicamente para as florestas neotropicais, cultural e socioeconômicamente crucial para os Povos Indígenas e comunidades locais que vivem nessas florestas, tem ciclos populacionais de larga escala e longo prazo.

Do ponto de vista ecológico, o queixada é considerado uma espécie-chave, pois influencia a regeneração florestal e as populações de plantas, principalmente palmeiras, por meio da predação de sementes e forrageamento e renovação da serapilheira. Eles também são considerados engenheiros ecológicos por meio da manutenção e expansão de barragens e chafurdações minerais florestais, que beneficiam muitas outras espécies da vida selvagem. Além disso, são a presa preferida do maior predador da América Latina, a onça-pintada (Panthera onca). Quando os pecaris desaparecem, as populações de onças declinam.

Os queixadas são imensamente importantes do ponto de vista sociocultural, como alvo preferencial de caça de subsistência para os Povos Indígenas e comunidades ribeirinhas e rurais em toda a sua extensão. Esse significado se reflete nas histórias, na história oral e na arte de muitos povos indígenas da América Latina. De fato, alguns Povos Indígenas têm histórias que se referem ao desaparecimento e reaparecimento dos queixadas.

O principal autor do estudo, Dr. José Fragoso do Departamento de Zoologia da Universidade de Brasília, Brasília, DF, Brasil, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA/MCTIC), Manaus, Brasil e da Academia de Ciências da Califórnia, San Francisco, Califórnia, disse: “Esta análise destaca a importância de áreas naturais muito grandes e contínuas que permitem a dinâmica populacional fonte-dreno e garantem a recolonização e a persistência da população local no tempo e no espaço para talvez as espécies fundamentais para as florestas neotropicais. Também destaca como trabalhar com povos indígenas pode ajudar a resolver mistérios da biologia. Nosso trabalho também resolve uma questão-chave na ecologia tropical, o que acontece com os queixadas quando eles desaparecem.”

A autora sênior, Dra. Mariana Altricher, do Departamento de Estudos Ambientais, Prescott College, Arizona, acredita que “este trabalho esclarece um mistério duradouro nas florestas tropicais. Ele ajudará a orientar futuras pesquisas e esforços de conservação nos trópicos. Mais importante ainda, devemos continuar monitorando as populações de queixadas, especialmente em áreas protegidas fragmentadas”.

O Dr. Harald Beck, co-presidente do Grupo de Especialistas em Peccary da IUCN e um dos autores do estudo, disse: “Esta publicação exclusiva tem um foco em grande escala (América Central e do Sul), utilizou dados históricos e atuais e novos métodos de modelagem de última geração para responder a questões ecológicas críticas sobre as flutuações espaço-temporais da população do mamífero neotropical dominante, o queixada. O artigo guiará pesquisas futuras nos Neotrópicos, bem como influenciará os esforços e políticas de conservação.”

Dr. Rob Wallace, Cientista Sênior de Conservação da WCS e um dos coautores do estudo observou: “A WCS continua comprometida com a conservação em escala de paisagem em uma série de Fortalezas da Natureza na América Latina, o que é fundamental para espécies amplas como o queixada, especialmente considerando esses ciclos populacionais. Compreender esses ciclos populacionais naturais será crucial para interpretar nossos esforços de monitoramento populacional, o que representa o padrão-ouro para avaliar nosso impacto na conservação, não apenas dos próprios queixadas como espécie-chave e referência sociocultural, mas também de outros animais selvagens com onde eles coexistem – anta-da-terra, queixadas, biodiversidade de serapilheira, várias espécies de palmeiras, diversidade de plantas e, claro, a onça-pintada”.

Os autores do estudo foram: José ? MV Fragoso1,2,3*, André? P. Antunes2,4Kirsten M. Silvius5Pedro AL Constantino4Galo Zapata-Rios6Hani R. El Bizri7,8Richard E. Bodmer9,10Micaela Caminho11,12Benoit de Thoisy13Robert B. Wallace14Thais Q. Morcatty8,15Pedro Prefeito16,17Cecile Richard Hansen18Matthew T. Hallett19,20,21Rafael A. Reyna-Hurtado22H. Harald Beck23Soledad de Bustos24,25Alexine Keuroghlian26Alessandra Nava27Olga L. Montenegro28Ennio Painkow Neto29Mariana Altrichter30.

1 Departamento de Zoologia, Universidade de Brasília, Brasília, DF, Brasil

2 Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA/MCTIC), Manaus, Brasil

3 Academia de Ciências da Califórnia, São Francisco, Califórnia, EUA

4 RedeFauna–Rede de Pesquisa em Diversidade, Conservação e Uso da Fauna da Amazônia, Tefé?, Amazonas, Brasil

5 Departamento de Recursos Florestais e Conservação Ambiental, Virginia Tech, Blacksburg, Virginia, EUA

6 Wildlife Conservation Society – Programa Equador, Quito, Equador

7 Departamento de Ciências Naturais, Manchester Metropolitan University, Manchester, Reino Unido

8 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá ?, Tefe ?, Amazonas, Brasil

9 Museu de Culturas Amazônicas-Fundamazonia, Iquitos, Loreto, Peru ?

10 DICE, Escola de Antropologia e Conservação, Universidade de Kent, Canterbury, Reino Unido

11 Proyecto Quimilero, Roosevelt 4344, CABA, Resistencia, Argentina

12 EDGE of Existence—Zoological Society of London, Regent’s Park, Londres, Inglaterra, Reino Unido

ONG 13 Kwata, Caiena, Guiana Francesa

14 Wildlife Conservation Society, Bronx, Nova York, EUA

15 Departamento de Ciências Sociais, Oxford Brookes University, Oxford, Reino Unido

16 Departament de Sanitat i d’Anatomia Animals, Facultat de Veterina?ria, Universitat Autonoma de Barcelona, ​​Bellaterra, Espanha

17 Museo de Culturas Indigenas Amazonicas, Loreto, Iquitos, Peru

18 Office Francais de la Biodiversite ?-DRAS/SCGEEUMREcoFoG, Kourou, França

19 Departamento de Ecologia e Conservação da Vida Selvagem, Universidade da Flórida, Gainesville, Flórida, EUA

20 Institute for the Environment & Sustainability, Miami University, Oxford, Ohio, EUA

21 Centro de Pesquisa Florestal Internacional (CIFOR), Bogor, Indonésia

22 El Colegio de la Frontera Sur -Unidad Campeche, Campeche, Campeche, México

23 Departamento de Ciências Biológicas, Towson University, Towson, Baltimore, Maryland, EUA

24 Secretaria de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Salta, Santiago del Estero, Salta, Argentina

25 Fundacio ? n Biodiversidad Argentina, Suipacha, Argentina

26 Projeto Peccary/IUCN/SSC Grupo Especialista em Peccary, Campo Grande, Brasil

27 Fiocruz ILMD Amazônia, Adriano ? polis, Manaus, Amazonas, Brasil

28 Instituto de Ciencias Naturales, Universidad Nacional de Colombia, Bogotá?, Colombia

29 Tropical Sustainability Institute–TSI, Carapicu ??ba, São Paulo, Brasil

30 Faculdade de Estudos Ambientais, Prescott College, Prescott, Arizona, EUA

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