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Ministro dos direitos humanos do Brasil é demitido por acusações de assédio sexual | Brasil

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O presidente do Brasil demitiu um dos membros mais populares do seu gabinete após alegações de que Silvio Almeida assediou sexualmente pelo menos duas mulheres — uma das quais é outra figura proeminente, a ministra da igualdade racial, Anielle Franco.

Almeida, o ministro dos direitos humanos, negou as alegações, e Franco permaneceu em silêncio até agora. Mas o escândalo foi um golpe duro para a administração de Luiz Inácio Lula da Silva e foi recebido com profunda consternação pelo movimento pelos direitos dos negros.

Almeida e Franco estão entre as principais vozes na luta contra o racismo no Brasil. Ambos também estavam entre os principais alvos de ataques de apoiadores do ex-presidente de extrema direita Jair Bolsonaro desde o início do governo Lula em janeiro de 2023.

No declaração divulgado na sexta-feira à noite, Lula disse: “Diante das graves denúncias contra o ministro Silvio Almeida e após chamá-lo para uma discussão … [I] decidiu demiti-lo.”

O presidente acrescentou que manter Almeida se tornou “insustentável dada a natureza das acusações de assédio sexual”.

“O governo federal reitera seu compromisso com os direitos humanos e reafirma que nenhuma forma de violência contra as mulheres será tolerada”, concluiu o comunicado, reiterando também que a Polícia Federal está investigando o caso.

O caso veio à tona na quinta-feira, quando o site de notícias brasileiro Metrópoles informou que Almeida teria sido denunciada ao Me Too Brasil, organização que defende mulheres vítimas de violência sexual, “por supostos casos de assédio sexual contra mulheres”.

O relatório não especificou o número de supostas vítimas, mas afirmou que Franco estava entre elas – algo posteriormente confirmado por outro veículos de comunicação brasileiros. Um dia antes, o site de notícias UOL informou que Almeida estava enfrentando alegações de bullying entre funcionários do ministério.

A ministra da igualdade racial, que entrou na política após o assassinato de sua irmã política Marielle Franco em 2018 – um dos assassinatos mais chocantes e de alto perfil da história do Rio de Janeiro – permaneceu em silêncio. Franco não confirmou nem negou as alegações.

O Metrópoles alegou que o suposto assédio a Franco por parte de Almeida incluía “toques em suas pernas”, “beijos inapropriados durante cumprimentos” e o uso de “expressões vulgares com conteúdo sexual”.

Todos os incidentes teriam ocorrido no ano passado e foram relatados a outros ministros, assim como à primeira-dama, Rosângela da Silva, conhecida como Janja, que é amiga de Franco. Apesar disso, nenhuma ação parece ter sido tomada, o que gerou críticas ao governo depois que as acusações se tornaram públicas.

Horas depois do escândalo estourar, Janja postou uma foto sem legenda nas redes sociais, em que ela beija Franco na testa – algo amplamente interpretado como um gesto de apoio.

A ministra da Mulher, Aparecida Gonçalves, foi mais direta: ela postou uma foto de mãos dadas com Franco, acompanhado da legenda: “Minha solidariedade e apoio a você, meu amigo e colega ministerial, durante este momento difícil.”

O Me Too Brasil divulgou nota na quinta-feira confirmando ter recebido as denúncias contra Almeida, mas não divulgou quantas nem os nomes envolvidos. “As vítimas enfrentaram dificuldades para obter apoio institucional para validar suas denúncias”, disse a organização.

Na quinta-feira, Almeida rapidamente postou um vídeo em suas redes sociais no qual declarou: “Quero … rejeitar veementemente as mentiras e falsidades que estão sendo lançadas contra mim”.

Ele afirmou: “É evidente que há uma campanha muito bem orquestrada para prejudicar minha imagem como homem negro, como defensor dos direitos humanos e como alguém em uma posição pública de destaque”.

Ainda no cargo, Almeida utilizou as redes sociais oficiais do ministério para ataque Me Too Brasilalegando que o modus operandi da organização frequentemente envolvia “acusações anônimas, infundadas e sem fundamento”.

Acadêmico de destaque e autor de best-sellers que popularizou o conceito de “racismo estrutural” no Brasil, Almeida entrou na política há menos de dois anos, quando Lula o convidou para ser ministro dos direitos humanos.

Enquanto estava no cargo, ele foi elogiado por setores da esquerda como um dos poucos ministros que conseguiu conduzir o Partido dos Trabalhadores (PT) de Lula de volta às suas raízes progressistas.

Em março, quando o Brasil marcou o 60º aniversário do início de uma ditadura brutal de duas décadas, Almeida foi uma voz solitária pedindo eventos para homenagear os milhares que foram mortos, desaparecidos ou torturados pelo regime de 1964-85. Lula proibiu tais comemorações, aparentemente para evitar perturbar os militares.

Desde que as alegações contra Almeida surgiram, membros de várias organizações de direitos negros expressaram profunda consternação. A Black Coalition for Rights, uma aliança de cerca de 300 organizações e entidades do movimento negro, emitiu uma “declaração de solidariedade à ministra Anielle Franco e outras vítimas femininas” com a hashtag #AnielleNãoEstáSó.

Sem citar Almeida, o comunicado exigiu “apuração rigorosa dos fatos, com a devida responsabilização dos culpados e também daqueles que omitiram-se diante dessas gravíssimas alegações”.

Aliados e apoiadores de Bolsonaro celebram o caso como um suposto exemplo de hipocrisia de esquerda – e até fazem piadas sobre o suposto assédio – desde quinta-feira. Uma das principais figuras da extrema direita, o deputado Nikolas Ferreira, brincou Xque hoje é proibido no Brasil, que o “governo do amor [as Lula has described his administration] é amar um pouco demais”.

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