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Hoje nesta newsletter falamos de pátria. A palavra é um significante vazio desde muito antes de o teórico político argentino Ernesto Laclau cunhar essa noção. Desde sempre, na verdade, e a tentativa de preencher esse vazio deu origem a um grande repertório de absurdos históricos. O último é personificado por dois governantes que passaram anos torturando o conceito de pátria, assim como o de povo. Em suma, o da democracia. O regime de Daniel Ortega e Rosario Murillo ordenou ontem a retirada da nacionalidade nicaragüense de 94 cidadãos, escritores, intelectuais, ativistas políticos e jornalistas. A vileza, que inclui o confisco de seus bens, é autoexplicativa. Mas, ao mesmo tempo, essa vingança dá uma ideia da perversão da mensagem subjacente. Ortega e Murillo determinam quem merece ser nicaraguense e quem não. Chegam a dizer “a pátria sou eu” ou “nós somos”: o primeiro atributo dos regimes totalitários.
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