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Inseticidas contendo flupiradifurona e sulfoxaflor podem ter efeitos devastadores na saúde das abelhas. As substâncias danificam a flora intestinal dos insetos, principalmente quando usadas em conjunto com um fungicida comum, tornando-os mais suscetíveis a doenças e diminuindo sua vida útil. Isso foi demonstrado recentemente em um estudo realizado na Martin Luther University Halle-Wittenberg (MLU) e no Helmholtz Center for Environmental Research (UFZ), conforme publicado em Ciência do Meio Ambiente Total. Os dois inseticidas foram considerados inofensivos para abelhas e zangões quando aprovados, mas seu uso foi severamente restringido.
Para o estudo, as abelhas que estavam livres de influências ambientais foram criadas pela primeira vez em laboratório. “Queríamos controlar todos os aspectos da vida das abelhas – desde a dieta até a exposição a patógenos ou pesticidas”, diz Yahya Al Naggar, biólogo que liderou o projeto na MLU e que agora trabalha na Universidade de Tanta, no Egito. Nos primeiros dias, todas as abelhas receberam o mesmo alimento: xarope de açúcar. Eles foram então divididos em vários grupos e vários pesticidas foram adicionados à sua alimentação. Um grupo recebeu flupiradifurona, enquanto outro recebeu sulfoxaflor. Ambas as substâncias são inseticidas aprovados na Alemanha, mas seu uso agora é limitado a estufas.
Como os pesticidas são frequentemente usados em mistura, os cientistas também levaram isso em consideração em seu experimento de laboratório, enriquecendo os alimentos administrados a dois outros grupos não apenas com os inseticidas mencionados, mas também com azoxistrobina, que tem sido usada para proteger as plantas de fungos por muitas décadas. A concentração das substâncias ficou bem abaixo dos requisitos legais em cada caso. “Nossa abordagem foi baseada nas concentrações realistas que podem ser encontradas em pólen e néctar de plantas que foram tratadas com pesticidas”, diz Al Naggar. Um grupo controle continuou a receber o xarope de açúcar normal sem aditivos.
Durante um período de dez dias, a equipe observou se as substâncias tinham algum efeito sobre as abelhas e, em caso afirmativo, quais. Eles descobriram que os pesticidas são tudo menos inofensivos: cerca de metade de todas as abelhas cuja dieta foi suplementada com flupiradifurona morreram durante o estudo – e ainda mais quando combinadas com azoxistrobina. Enquanto o sulfoxaflor produziu efeitos semelhantes, mais insetos sobreviveram à dieta.
Os cientistas também analisaram a flora intestinal das abelhas, ou seja, as bactérias e fungos que vivem em seu trato digestivo. “O fungicida azoxistrobina levou a uma redução significativa de fungos que ocorrem naturalmente. Isso era de se esperar, pois fungicidas são usados para controlar fungos”, diz Tesfaye Wubet, do Centro Helmholtz de Pesquisa Ambiental (UFZ), que também é membro do o Centro Alemão de Pesquisa Integrativa em Biodiversidade (iDiv) Halle-Jena-Leipzig. Ao longo do estudo de dez dias, no entanto, a equipe conseguiu mostrar que a mistura de fungos e bactérias detectadas nos insetos diferia muito do grupo controle, dependendo das substâncias utilizadas. Segundo os pesquisadores, a bactéria Serratia marcescens foi capaz de se espalhar de forma alarmante no trato digestivo dos insetos tratados. “Essas bactérias são patogênicas e prejudiciais à saúde das abelhas. Elas podem dificultar a luta dos insetos contra a infecção, levando à morte prematura”, explica Al Naggar.
Como o estudo foi realizado em um laboratório em Halle para excluir o número de influências externas, não está claro se os mesmos resultados podem ser encontrados na natureza. “Os efeitos dos pesticidas podem ser ainda mais dramáticos – ou as abelhas podem compensar total ou pelo menos parcialmente os efeitos negativos”, conclui Wubet. Com isso em mente, a equipe pede que os efeitos potenciais de novos pesticidas em insetos benéficos sejam pesquisados com mais rigor antes de serem aprovados e que seus efeitos em aspectos como a flora intestinal sejam incluídos como padrão na avaliação de risco.
O estudo foi financiado pela Fundação Alexander von Humboldt com apoio adicional através do projeto “Poshbee”, financiado pela UE.
Fonte da história:
Materiais fornecidos por Martin-Luther-Universität Halle-Wittenberg. Nota: O conteúdo pode ser editado para estilo e duração.
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