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Hayao Miyazaki, um nome que é sinônimo de alguns dos filmes de animação mais icônicos e pensativos já criados, fez recentemente uma declaração rara, mas impactante.

Em 16 de novembro de 2024, durante a aceitação do Prêmio Ramon Magsaysay, Miyazaki chamou a atenção para as atrocidades históricas do Japão durante a guerra – algo que poucas figuras públicas de sua estatura discutem abertamente.
Miyazaki não compareceu pessoalmente ao evento (o que não é surpreendente, dada a sua conhecida relutância em viajar ou fazer aparições públicas). Em vez disso, Kenichi Yoda, membro do conselho do Studio Ghibli, fez o discurso em seu nome.
Ele reconheceu explicitamente as atrocidades cometidas pelas forças japonesas durante a Segunda Guerra Mundial, referindo-se especificamente à Batalha de Manila em 1945.
Para contextualizar, essa batalha é frequentemente referida como um dos conflitos urbanos mais devastadores no teatro do Pacífico. Os civis suportaram o peso, com estimativas de mais de 100 mil mortes, a maioria delas não-combatentes. Miyazaki disse, e cito:
“Durante a guerra, as forças japonesas cometeram atrocidades terríveis, matando inúmeros civis. Como japoneses, nunca devemos esquecer isso. É algo que permanecerá para sempre.”
Esta também não foi uma menção passageira. Ele vinculou seu reconhecimento à importância de receber um prêmio das Filipinas – um país que sofreu profundamente sob a ocupação japonesa.

Para dar algumas informações sobre o prêmio em si: o Prêmio Ramon Magsaysay é frequentemente apelidado de “Prêmio Nobel da Ásia”. Nomeado em homenagem ao sétimo presidente das Filipinas, homenageia indivíduos que fizeram contribuições significativas para a liderança, o serviço público e a mudança social.
Miyazaki foi anunciado como um dos premiados de 2024 em setembro, e sua citação destacou seu trabalho ao longo da vida em animação como uma ferramenta para “iluminar a condição humana.
Miyazaki tem um histórico de ser franco sobre questões sociais e políticas, embora esta afirmação em particular pareça mais importante dadas as implicações culturais e políticas. A história do Japão durante a guerra ainda é um assunto controverso, com muitas figuras públicas e instituições optando por evitá-la completamente ou, pior, minimizá-la.
Miyazaki, no entanto, nunca se esquivou dos capítulos mais sombrios do Japão. Sua filmografia reflete sua postura anti-guerra e sua abordagem profundamente humanista para contar histórias.
O vento aumenta (2013), por exemplo, é uma exploração matizada do complexo industrial militar do Japão, contada através das lentes do projetista do avião de combate Zero. Os críticos elogiaram e debateram o filme por sua representação do dever versus a moralidade.
E não são apenas seus filmes. Miyazaki criticou publicamente o nacionalismo japonês e a tendência do país de romantizar o seu passado militarista. Em entrevistas, ele expressou desdém pelos políticos que tentam encobrir a história, chamando-a de “vergonhosa” e “perigosa”.
É importante notar que o discurso de aceitação de Miyazaki também carregou um tom de humildade. Ele refletiu sobre a primeira vez que ouviu falar do Prêmio Magsaysay quando era criança, enfatizando como sua associação com valores como integridade e serviço público o marcou. Em suas palavras:
“Neste cenário histórico, receber o ‘Prêmio Magsaysay’ das Filipinas tem um significado profundo para mim. Eu aceito isso com um coração solene.”
A declaração de Miyazaki é um raro exemplo de uma figura pública que utiliza uma plataforma internacional para confrontar verdades incómodas sobre a história do seu país. Não é o tipo de coisa que vemos todos os dias e é mais uma razão pela qual Miyazaki não é apenas um cineasta lendário, mas também uma voz de consciência em um mundo que muitas vezes carece de uma.
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Fonte: ANN
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