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Um estudo hoje divulgado, baseado em modelos climáticos, estima a probabilidade de a temperatura média da superfície da Terra ultrapassar o recorde histórico até junho em 90%, num cenário de El Niño moderado a forte.
Devido a este fenómeno climático, muitas regiões do mundo, como a Baía de Benguela em Angola, as Filipinas e o Mar das Caraíbas, deverão registar temperaturas médias do ar recordes até Junho, segundo o estudo publicado na revista científica Scientific Reports.
Por definição, segundo o Instituto Português dos Mares e da Atmosfera (IPMA), o El Niño é um aquecimento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico, especialmente na sua faixa tropical, afetando o clima global e a circulação geral da atmosfera.
O fenômeno El Niño ocorre em um intervalo médio de quatro anos e dura um período de seis meses a 1,3 anos. O último destes fenómenos surgiu em meados de 2023.
A temperatura média global da superfície (temperatura média na superfície da Terra) é obtida calculando a média das temperaturas do mar (temperatura da superfície do mar) e da terra (temperatura do ar na superfície).
No estudo divulgado hoje, os cientistas modelaram os efeitos do fenómeno El Niño de julho de 2023 a junho de 2024 na variação regional das temperaturas médias do ar entre 1951 e 1980.
Os modelos incluíram o pico típico do fenômeno, que ocorre entre novembro e janeiro.
Os investigadores concluíram que, num cenário de El Niño moderado, a Baía de Benguela e as Filipinas registariam temperaturas médias do ar recordes durante o mês de Junho.
Valores recordes também serão alcançados no mesmo período no Caribe, no Mar da China Meridional, na Amazônia no Brasil e no Alasca nos Estados Unidos, em um cenário de forte El Niño.
Num cenário de El Niño moderado, os cientistas estimaram que a temperatura média da superfície global para 2023-2024 variaria entre 1,03°C e 1,10°C acima do valor do período de referência (1951-1980).
No caso de um cenário de El Niño forte, a temperatura média global da superfície seria 1,06 a 1,20 graus Celsius superior ao valor observado no período 1951-1980, segundo o estudo.
O pequeno aumento na temperatura média global da superfície esteve fortemente associado a grandes aumentos nas temperaturas do ar à superfície durante eventos extremos de aquecimento regional, disseram os cientistas.
No estudo publicado hoje, os autores alertam que o aumento da temperatura do ar pode levar a um aumento significativo na probabilidade de eventos climáticos extremos, incluindo incêndios florestais, ciclones tropicais e ondas de calor, especialmente em regiões oceânicas e costeiras, “onde a capacidade calorífica do oceanos é maior.” Na persistência das condições climáticas por longos períodos de tempo.
Em janeiro, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) alertou que 2024 poderia quebrar o recorde de temperatura estabelecido em 2023 devido ao fenômeno El Niño.
De acordo com a agência da ONU, a tendência de aquecimento global induzida pelo El Niño, que viu as temperaturas do ar subirem para níveis recordes em 2023 todos os meses entre junho e dezembro, deverá continuar em 2024.
A secretária-geral da Organização Meteorológica Mundial, Celeste Saulo, alertou que “como o El Niño costuma ter o maior impacto nas temperaturas globais após o seu pico, 2024 poderá ser ainda mais quente”.
Cientistas da Agência Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA) estimam que há uma chance em três de que 2024 seja mais quente que 2023 e 99% de chance de que 2024 seja classificado entre os cinco anos mais quentes. Registros.
Portugal registou em janeiro a primeira onda de calor de 2024, que o IPMA considera a mais significativa para aquele mês desde 1941.
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