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Algumas pessoas assumem que há um tipo de beleza com o qual todos podem concordar. Mas os primeiros humanos realmente admiravam corpos esbeltos da mesma forma que nós hoje? Afinal, modas vêm e vão – houve muitas modas passageiras ao longo da história que achamos difícil entender hoje.
A vice-primeira-ministra do Reino Unido, Angela Rayner, sugeriu recentemente que “belo” precisa ser removido da política de moradia do governo, sob o argumento de que é muito subjetivo. Ela disse em uma entrevista que “belo não significa nada, na verdade, significa uma coisa para uma pessoa e outra para outra”.
Ela não está sozinha. Muitas pessoas apoiam a noção, declarada pela primeira vez pela romancista irlandesa Margeret Wolfe Hungerford, de que “a beleza está nos olhos de quem vê”.
Mas isso é verdade? O estado atual do nosso conhecimento sobre estética, e especificamente o que consideramos belo, é um mosaico de descobertas empíricas. Por mais de 150 anos, psicólogos têm conduzido experimentos cuidadosamente controlados para determinar se um atributo, como uma cor, forma ou melodia em particular, é belo.
Algumas regras surgiram, mas nenhuma é universal: por exemplo, a proporção do retângulo áureo na geometria, que denota um retângulo com altura para largura sendo 1:1,6. Embora consideradas bonitas por alguns em objetos como prédios ou janelas, essas dimensões são uma escolha incomum para azulejos de banheiro ou livros.
Pesquisas mostram que nossas experiências de achar coisas visualmente atraentes são parte integrante, e muitas vezes inconsciente, da maneira como percebemos objetos no mundo ao nosso redor. Leva aproximadamente 50 milissegundos, um piscar de olhos, para decidir com segurança se achamos ou não um objeto bonito.
Familiaridade é um fator importante. Quando algo é visto ou ouvido com frequência, é mais fácil para o nosso sistema nervoso (nossa visão e audição) processá-lo. E essa facilidade pode ser atribuída erroneamente como beleza. Isso também explica como as tendências em beleza surgem – se continuarmos vendo e celebrando um certo tipo de rosto, ele se torna familiar.
A beleza surge de diferentes maneiras, e se algo é considerado bonito pode depender de atributos da pessoa que o observa, como suas experiências anteriores, conhecimentos e atitudes; se está pendurado em um museu ou ao longo do corredor de um hospital; bem como atributos do objeto em si, como sua forma, cor, proporções ou tamanho.
A beleza pode, portanto, surgir de um bom design. Quando as pessoas lidam com um objeto ou interface fácil de usar, elas gostam mais dele do que de equivalentes difíceis de usar. Objetos fáceis de usar geralmente têm características visuais como equilíbrio claro, clareza e bom contraste.
A beleza importa na política habitacional?
Discussões sobre beleza são uma situação saudável, até que começam a se tornar discussões sobre política habitacional.
Um belo edifício pode trazer alegria e contentamento na vida cotidiana. Casas bonitas e bem projetadas podem melhorar significativamente a saúde mental dos habitantes. Ambientes atraentes e bem construídos podem reduzir o estresse, aumentar sentimentos de felicidade e contribuir para uma sensação de paz e contentamento.
Talvez seja por isso que há cada vez mais evidências de que tomar pequenas doses de psicodélicos em um ambiente controlado, como uma clínica, que produz experiências intensas de beleza, pode ajudar a tratar a depressão.
Um belo edifício significa que alguém se importou em fazer aquele pouquinho a mais. Isso pode ser significativo para a criança que cresce em moradias sociais, oferecendo um senso de orgulho e pertencimento. O apelo estético em moradias e bairros pode levar ao orgulho cívico, onde os moradores assumem a responsabilidade coletiva de manter e melhorar seu ambiente.
O orgulho pode levar a comunidades mais fortes e vibrantes, e uma ideia que ganhou vida nos tempos modernos pelo “movimento da cidade bonita” nos EUA (1890–1920). “Ruas más criam pessoas más”, escreveu o principal teórico do movimento, Charles Mulford Robinson.

harry_nl/FlickrCC BY-SA
Beleza em moradias não é apenas sobre estética; muitas vezes coincide com funcionalidade. Um bom design considera a usabilidade e o conforto dos espaços, garantindo que eles sejam bonitos e práticos. Esse equilíbrio pode melhorar a qualidade de vida dos moradores, tornando os espaços mais eficientes e agradáveis para se viver.
A beleza também pode aumentar a perseverança. Ao pesquisar informações em um site, a perseverança – a quantidade de tempo que os usuários continuam pesquisando informações difíceis de encontrar – aumenta quando o site é classificado de forma independente como esteticamente agradável.
Da mesma forma, ao lidar com um dispositivo eletrônico, as pessoas tentam por mais tempo fazê-lo funcionar se o consideram esteticamente agradável.
As pessoas também estão dispostas a trabalhar mais para continuar vendo um rosto que consideram bonito, mesmo que isso não venha acompanhado de nenhuma outra recompensa.
A beleza também exige cópias de si mesma. Historicamente, na arte e no design, paisagens, rostos ou vasos considerados belos foram copiados de diferentes formas. O ato de desenhar, esculpir, escrever sobre, compor sobre um objeto bonito é fazer uma cópia dele.
Não desinvista na beleza
A subjetividade da beleza não exige desinvestimento dela. Beleza significa algo, mesmo que não seja totalmente objetiva. Tentar trazer beleza para nossas vidas cotidianas, não importa que cada um tenha uma perspectiva única, como no caso da moradia, significaria investir na experiência humana para todos.
Então, embora a beleza seja, até certo ponto, subjetiva, o design artístico pode desempenhar um papel crucial em vários aspectos de nossas vidas, do bem-estar psicológico à coesão social e até mesmo valor econômico. Gigantes da indústria, como Ikea e Apple, vêm colhendo os benefícios da aplicação desse conhecimento em seu modelo de negócios há décadas.
Por que construir casas bonitas em primeiro lugar? Ter a experiência humana em mente ao construir casas e bairros, lembrar do imenso impacto que algo bem projetado e decorado pode ter é um investimento que vale a pena na humanidade.
Se remover o termo bonito da política habitacional ajuda a construir mais casas, então isso é ótimo. Mas, quando se trata de realmente construí-las – quer o termo “bonito” ocorra na política ou não – certamente vale a pena considerar investir em beleza.
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