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É um cenário que se repetiu muitas vezes nas plataformas de redes sociais russas e ocidentais.
Um vídeo mostra um soldado, seja ucraniano ou russo, numa posição maltratada e muitas vezes exposta, sendo localizado antes mesmo de saber que está sendo rastreado.
O soldado tenta correr, esconder ou fugir do implacável robô no céu.
Alguns reagem em pânico, enquanto outros resignam-se ao seu destino aparentemente inevitável. Mas mesmo quando assiste a um vídeo de baixa qualidade, o espectador pode ver o momento em que o homem perseguido percebe que foi superado e não há como escapar.
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Os drones não só tornaram a guerra moderna mais perigosa para os soldados no terreno, como também mudaram completamente a forma como as unidades militares operam nas linhas da frente, especialmente na era da inteligência artificial.
“Há uma corrida armamentista de armas autônomas 100% alimentada por IA acontecendo na Ucrânia entre os russos e os ucranianos”, disse George Barros, analista russo e líder da equipe de inteligência geoespacial do Instituto para o Estudo da Guerra, à Strong The One.
“Não é uma questão de se será implementado ou não, é uma questão de quando.”
Já existem evidências de que alguma integração de IA foi utilizada com drones usados tanto por ucranianos como por russos.
Embora não existam provas fiáveis que sugiram a utilização da IA em capacidades ofensivas, esta tem sido utilizada para obter informações no campo de batalha, através da identificação de diferentes tipos de armas e máquinas adversárias.
Barros explicou que atualmente existem maneiras de derrotar os drones, inclusive explodindo as frequências de comunicação de rádio que o operador remoto usa para controlar o drone.
Mas a incorporação da tecnologia de IA poderia permitir que os drones fossem pré-programados para identificar e atacar alvos específicos sem ter de comunicar com o operador.
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Barros disse que não tem ideia se os russos ou os ucranianos estão se superando na corrida pela IA, mas observou que a guerra moderna está impulsionando o progresso da IA.
“As demandas do campo de batalha exigem esse tipo de solução”, disse Barros. “E acho que está se movendo muito mais rápido do que a maioria das pessoas em Washington realmente imagina.”
A guerra com a Rússia já dura mais de dois anos e, embora muitas das cenas que emergem dos campos de batalha sejam assustadoramente reminiscentes das guerras europeias do século XX, alguns avanços tecnológicos criaram pesadelos modernos tanto para estrategas militares como para soldados.
“A manobra é muito difícil de conseguir na guerra moderna e isso se deve à inovação tática dos drones”, disse Barros, referindo-se à estratégia militar de surpresa que é usada para obter vantagem posicional.
Ele acrescentou: “No momento, nenhum teórico militar tem uma resposta ou solução sobre como devolver a manobra ao campo de batalha”.
O especialista explicou que os analistas militares estão intrigados com a forma como os fundamentos dos princípios do tempo de guerra mudaram à medida que as doutrinas militares anteriores da Rússia, dos Estados Unidos e da NATO foram em grande parte substituídas pelas realidades da guerra com drones.
“A surpresa tática foi basicamente eliminada agora, graças à proliferação massiva desses drones quadricópteros baratos”, acrescentou. “É impossível encontrar esconderijo. É quase impossível encontrar cobertura.”
Barros disse que esta mudança na doutrina militar é uma das razões do fracasso do contra-ataque lançado pela Ucrânia em 2023.
Os militares russos conseguiram utilizar com sucesso capacidades de reconhecimento não tripuladas combinadas com ataques de artilharia e drones para enfraquecer as forças ucranianas antes que pudessem avançar sobre as posições russas.
“Quando você pega nossa doutrina, seu melhor disfarce, e a coloca contra a realidade tática, sem cobertura e ocultação, nossos planos de combate desmoronam”, disse Barros.
“É um grande problema. É um problema realmente grande”, acrescentou.
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