Estudos/Pesquisa

Um estudo inovador descreve uma nova via molecular envolvida no controle da reprodução

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Um estudo liderado pela Universidade de Córdoba e pelo IMIBIC fornece a primeira evidência de uma interação direta entre kisspeptinas, proteínas cruciais para o desenvolvimento sexual, e astrócitos, células não neuronais do sistema nervoso, abrindo novos caminhos para a compreensão da regulação do sistema reprodutivo.

A reprodução sexual é protegida por uma rede sofisticada de sistemas reguladores que funcionam de forma coordenada. Dentro desse quadro, uma das moléculas mais importantes são as kisspeptinas, proteínas produzidas principalmente no hipotálamo e que desempenham um papel crucial na regulação do sistema reprodutivo. Uma nova pesquisa coordenada pela Universidade de Córdoba e o IMIBIC conseguiu descrever, pela primeira vez, uma nova via molecular envolvida no controle da reprodução e que envolve, precisamente, essas proteínas.

Os resultados do estudo, do qual a pesquisadora Encarnación Torres é a primeira autora, indicam que essas moléculas, chamadas kisspeptinas, modulam a atividade dos astrócitos, um tipo de células não neuronais que desempenham funções-chave no sistema nervoso central. Acreditava-se anteriormente que todas essas interações das kisspeptinas ocorriam com neurônios. Este estudo forneceu a primeira evidência de que essas proteínas também atuam em outros elementos celulares do cérebro.

Um caminho paralelo para a “autorregulação”

O estudo, realizado principalmente em modelos pré-clínicos usando camundongos, e em colaboração com outras instituições, como o Centro Espanhol de Pesquisa Biomédica em Fisiopatologia da Obesidade e Nutrição (CIBEROBN) e as Universidades de Cambridge (Inglaterra) e Lille (França), também conseguiu lançar alguma luz sobre a utilidade desta nova rota molecular. Como Manuel Tena-Sempere, codiretor do trabalho, juntamente com o pesquisador Antonio Romero, indica, os resultados sugerem que esta interação atua como uma espécie de rota paralela que apoia a autorregulação dos circuitos reprodutivos do cérebro.

Sabe-se há várias décadas que as kisspeptinas estimulam uma série de neurônios cerebrais, conhecidos como GnRH, que controlam o eixo reprodutivo. De acordo com o que foi descoberto neste novo estudo, as kisspeptinas também interagem com os astrócitos, justamente para evitar a superativação desses neurônios presentes no cérebro, evitando assim a estimulação excessiva, que poderia gerar falhas no sistema reprodutivo. Em suma, é um mecanismo de controle que permite manter o equilíbrio. “Como costuma acontecer com os circuitos fisiológicos, mais nem sempre é melhor, e a superexpressão pode produzir o oposto do que se busca”, ressalta Tena.

O papel da dieta

A equipe Tena-Sempere passou anos estudando o hipotálamo para entender mais profundamente como essa região do cérebro controla a obesidade e a puberdade e, acima de tudo, como esses dois fatores estão inter-relacionados.

Nesse sentido, os resultados do trabalho também mostraram como certas alterações reprodutivas associadas à obesidade também são moduladas pela ação das kisspeptinas sobre os astrócitos, algo que foi verificado ao analisar as mudanças nas respostas reprodutivas de roedores submetidos a dietas ricas em gordura.

O trabalho, portanto, representa um passo à frente na compreensão da complexa regulação do sistema reprodutivo. E, embora seja classificável como básico para a ciência translacional, visa entender melhor como os estados metabólicos e reprodutivos interagem para, eventualmente, ser capaz de diagnosticar alterações, investigar novos alvos terapêuticos e desenvolver tratamentos farmacológicos.

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