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Uma equipe de pesquisadores da Universidade Queen Mary de Londres e da Universidade de Campinas, no Brasil, descobriu que os ecossistemas florestais tropicais são mais dependentes de insetos aquáticos do que os ecossistemas florestais temperados e, portanto, são mais vulneráveis a perturbações nas ligações entre a terra e a água.
O estudo, publicado na revista Cartas de Ecologia, é o primeiro a comparar diretamente as interconexões entre terra e água em ambientes tropicais e temperados através do surgimento de insetos aquáticos. Os pesquisadores usaram uma técnica chamada análise de isótopos estáveis para rastrear o sinal de presas aquáticas nos tecidos de predadores artrópodes, como aranhas, saindo da água para a terra, ao redor de riachos nas florestas inglesas, galesas e escocesas e nas florestas tropicais amazônica e atlântica do Brasil. .
Eles descobriram que as aranhas consumiam mais presas de insetos aquáticos nos trópicos do que no Reino Unido, resultando em maior diversidade alimentar geral nas teias alimentares tropicais, em terra. Os seus resultados indicaram que os animais terrestres tropicais são mais dependentes e afetados pelos insetos aquáticos emergentes. Isto sugere que os ambientes tropicais são mais vulneráveis a futuras perturbações nas interconexões entre a terra e a água.
“Nossas descobertas mostram que não podemos simplesmente aplicar o conhecimento da pesquisa em zonas temperadas para proteger os ecossistemas tropicais”, disse o Dr. Pavel Kratina, autor sênior do estudo e professor sênior de Ecologia na Universidade Queen Mary de Londres. “O facto de os ecossistemas tropicais serem mais vulneráveis a perturbações nas ligações entre a terra e a água é preocupante, tendo em conta as crescentes pressões humanas sobre os ecossistemas tropicais de água doce, que estão entre os mais ameaçados do mundo.”
Os insetos aquáticos emergentes podem tornar-se um caminho para que os impactos humanos negativos se movam de um ambiente para outro. Por exemplo, poluir um riacho pode reduzir o número de insectos, o que, por sua vez, pode reduzir a disponibilidade de alimentos nutritivos para os predadores terrestres. Os insectos aquáticos tropicais estão sob ameaça de declínios catastróficos devido à actividade humana e às alterações climáticas – os resultados dos investigadores sugerem que isto teria consequências em cascata nos ambientes tropicais.
Os “tampões ribeirinhos” são faixas de terra protegidas em torno dos cursos de água que contribuem para proteger as ligações entre a terra e a água. No entanto, o tamanho destas faixas tampão (normalmente entre 5 e 100 m) é considerado inadequado para a protecção de grande parte da biodiversidade terrestre em torno da água. No Brasil, as regulamentações em torno dos buffers foram até flexibilizadas ao longo da última década. O estudo dos investigadores sublinha a necessidade de uma maior protecção das zonas ribeirinhas e de uma consideração mais ampla das ligações entre os ecossistemas, em vez de considerar diferentes habitats isoladamente, particularmente nos trópicos.
“Nossa pesquisa nos levou a partes remotas do mundo, desde a selva amazônica e a bacia do rio Iguaçu, no Brasil, até o parque nacional Snowdonia, no País de Gales, e The Trossachs, na Escócia”, disse o Dr. Liam Nash, autor principal do estudo e recém-graduado em doutorado pela Laboratório do Dr. Kratina em Queen Mary. “Enfrentamos carrapatos, vespas, mosquitos e cobras para coletar nossas amostras e vimos animais como harpias e antas ao longo do caminho. Enfrentamos desafios com a pandemia, que me fez ter que voar para fora do Brasil em um dos Os últimos voos disponíveis foram em março de 2020, pois as regras de viagem mudavam de hora em hora! Este trabalho não poderia ter acontecido sem a ajuda de guias de campo locais experientes e a estreita colaboração com cientistas e estudantes do Brasil.”
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