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Você já tomou uma decisão que, em retrospectiva, parecia irracional? Um novo estudo com camundongos, que pode ter implicações para as pessoas, sugere que algumas decisões estão, até certo ponto, fora de seu controle. Em vez disso, os ratos são programados para produzi-los.
“Esta pesquisa está nos dizendo que os animais são limitados nas decisões que tomam”, diz Christopher Gregg, PhD, neurobiólogo da University of Utah Health e autor sênior do estudo publicado recentemente na iScience. “Sua genética os empurra para um caminho ou outro.”
Gregg e sua equipe de pesquisa começaram a investigar a tomada de decisões depois de perceber que os ratos tomavam repetidamente o que parecia ser uma decisão irracional. Depois de encontrar um estoque de sementes escondidas, em vez de ficar parado para comê-las, os ratos voltaram a um local que continha comida no dia anterior. Somente neste dia, o local original estava vazio.
“Era como se os ratos estivessem questionando se o primeiro local realmente não tinha comida”, diz Gregg. “Como se eles pensassem que tinham perdido alguma coisa.”
Para Gregg e os coautores do estudo, o comportamento não fazia sentido. Os animais acabaram comendo menos por causa do tempo gasto continuamente retornando ao canteiro de comida vazio. Se esse tipo de comportamento fizer com que os camundongos comam menos na natureza, isso pode significar problemas, explica Gregg, porque não ingerir calorias suficientes pode ser prejudicial para um camundongo.
A verdadeira surpresa veio depois de descobrir que os camundongos sem um gene específico não “adivinham” para onde ir e, em vez disso, eram mais propensos a ficar e comer a comida que encontravam. Como resultado, eles consumiram mais calorias em geral. Esta foi a primeira evidência que os cientistas descobriram de que os genes podem influenciar a tomada de decisões, mesmo decisões que não parecem lógicas, pelo menos para um ser humano. Nesse caso, o gene Arc parecia ser importante para obrigar os camundongos a continuar procurando por comida mesmo quando não parecia ser necessário.
“Todos nós temos uma noção clara de como é questionar algo, mas quem teria pensado que esse tipo de comportamento poderia ser tão profundamente afetado por um gene?” diz Cornelia Stacher- Hörndli, PhD, neurobióloga e coautora. “Isso levanta a questão: outros vieses cognitivos estão sob controle genético?”
Comportamento de decodificação
Para o olho humano, a vida de um rato parece bastante simples. Quando colocados em um ambiente naturalístico no laboratório de Gregg, eles saíram de casa, exploraram os arredores, procuraram por comida, comeram um pouco e fizeram paradas de volta para casa no meio. Mas a visão parecia bem diferente depois que um algoritmo de aprendizado de máquina desconstruiu suas jornadas.
Um programa personalizado construído por Gregg e o co-autor do estudo, Jared Emery, analisou 1.609 excursões de forrageamento e viu que os camundongos repetiam 24 sequências de comportamento indefinidamente. À medida que os camundongos forrageavam, eles juntavam as sequências como blocos de construção, intercalando-as com comportamentos espontâneos para construir padrões de comportamento mais complexos. Um deles era o comportamento de adivinhação. “Até certo ponto, você pode prever o futuro”, comenta Gregg.
Esse futuro mudou para ratos sem o gene Arc. Seis das 24 sequências de comportamento foram alteradas e, juntas, essas diferenças causaram um curto-circuito no comportamento de adivinhação. Pesquisas anteriores mostraram que Arc está envolvido no aprendizado e na memória. Mas, no geral, a análise mostrou que a memória dos camundongos – e seus outros comportamentos – estavam praticamente intactos. A implicação é que o efeito nesses seis comportamentos foi específico.
“Uma ideia intrigante é que os animais evoluíram para tomar essas decisões porque eram de alguma forma vantajosos na natureza”, diz Gregg. Ele explica uma possibilidade: quando os ratos vão e voltam para avaliar os locais de comida anteriores, isso os ajuda a criar um mapa mental. E isso pode ajudá-los a encontrar comida mais rapidamente na próxima vez. “O viés cognitivo controlado geneticamente pode permitir uma tomada de decisão eficaz durante o forrageamento”, diz ele.
A questão permanece: existe uma base biológica para outros tipos de viés cognitivo? E os genes poderiam guiar a tomada de decisões em humanos? Mais pesquisas dirão. “Acredito que esta pesquisa é fundamental para um novo campo que estamos chamando de ‘genética de decisão’”, diz Stacher-Hörndli.
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