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As árvores da Mata Atlântica brasileira estão passando por uma migração complexa enquanto o planeta continua enfrentando as consequências do aumento das temperaturas em resposta às mudanças climáticas.
Um novo estudo publicado hoje no Revista de Ciência da Vegetação mostra que as árvores na Mata Atlântica brasileira estão migrando em resposta às mudanças climáticas. Estendendo-se por mais de 3.000 quilômetros ao longo da costa do Brasil e para o interior da Argentina e do Paraguai, a floresta abriga uma vasta gama de espécies de plantas e animais.
No entanto, séculos de desflorestação e destruição de habitats reduziu a floresta em cerca de 85%. Agora, espécies de árvores dentro dessas florestas montanhosas estão se movendo. Algumas migraram lentamente para cima para escapar do calor, enquanto algumas árvores nas florestas de planície estão migrando para baixo. Embora o movimento de árvores para climas mais adequados seja um fenômeno há muito reconhecido, a velocidade com que essas plantas bem enraizadas se movem permanece um tanto misteriosa.
A migração atual não é direta, pois vários fatores, como a competição entre espécies e a disponibilidade de habitats adequados, a influenciam. As árvores mais jovens em florestas de alta altitude são mais adaptáveis e se movem para cima, indicando que estão mais bem equipadas para lidar com as mudanças de temperatura.
“Descobrimos que diferentes espécies estão se movendo em direções diferentes – em florestas mais baixas, as árvores estão se movendo mais para baixo do que para cima, provavelmente devido a fatores além da temperatura, como a competição entre espécies”, explicou o autor principal Dr. Rodrigo Bergamin em um comunicado à imprensa. “No entanto, na floresta mais alta nas montanhas, a maioria das espécies está se movendo para cima à medida que as temperaturas aumentam e a vegetação rasteira se torna mais adequada para aquelas árvores que favorecem temperaturas mais quentes. Isso pode significar que as espécies que precisam de temperaturas mais frias correm o risco de morrer à medida que o mundo continua a aquecer.”
As consequências dessa migração são de longo alcance. Conforme as árvores se movem para novas áreas, elas estão deixando para trás os delicados ecossistemas que antes sustentavam. Isso pode levar à extinção de espécies que são incapazes de se adaptar às condições em mudança.
De acordo com o estudo, os pesquisadores calcularam “pontuações de temperatura da comunidade” em 627 espécies de árvores que vivem em 96 locais diferentes na Mata Atlântica brasileira. Isso permitiu que eles desenvolvessem uma compreensão completa do padrão climático da floresta.
“Espécies de altitudes mais elevadas são geralmente mais sensíveis à temperatura, e aquelas que precisam de frio têm mais probabilidade de perder na competição em temperaturas mais quentes para espécies que preferem temperaturas mais altas”, explicou a Dra. Sandra Müller, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e uma das autoras do estudo.
Embora o aquecimento atual do planeta não tenha precedentes e uma ameaça sériaas árvores se movimentam há milhões de anos. Por exemplo, aproximadamente 14.000 anos atrásáreas ao redor de Nova York e Nova Inglaterra eram o lar de vastas florestas de abetos, e durante uma breve onda de frio de 2.000 anos, esses abetos se mudaram e foram substituídos por pinheiros. Então, o planeta aqueceu, e esses pinheiros foram empurrados para fora por árvores decíduas, como bétulas, bordos e carvalhos.
Florestas antigas movidos constantemente devido a padrões de temperatura e precipitação, infecções e doenças causadas por patógenos e pragas, e até mesmo incêndios florestais massivos que alterariam a paisagem. Além disso, a situação é ainda mais complicada pelo fenômeno conhecido como Paradoxo de Reid.
Primeiramente notado por Clement Reidum paleobotânico, em 1899, há uma aparente contradição entre a rápida migração observada de plantas e a lenta migração esperada com base na adaptação genética. Basicamente, as árvores migram rápido demais simplesmente crescendo, deixando cair sementes e depois crescendo novamente. Sua necessidade genética de manter suas espécies vivas fazendo cópias de si mesmas por meio de sementes em uma direção específica e mais favorável ao clima não explica o quão rápido elas realmente fazem isso. Outra coisa está movendo essas sementes ao redor e a distâncias maiores. Os cientistas observam que outras espécies, como pássaros ou pequenos mamíferos, ajudam as árvores a migrar, mas isso só explicaria uma pequena parte das migrações de árvores.
Os cientistas ainda estão perplexos com o Paradoxo de Reid, mas está claro que, conforme as árvores migram, elas respondem a mudanças de temperatura, interagem com outras espécies e se adaptam a novos ambientes. Essa interação complexa torna desafiador prever as consequências exatas das mudanças climáticas nos ecossistemas.
Neste último estudo, os pesquisadores estão preocupados que o aquecimento do planeta tornará a migração de árvores mais competitiva e, por sua vez, destruirá ecossistemas inteiros. Embora tais fatores tornem as previsões difíceis, ainda há esperança. Estudos têm mostrado que a transição florestal, ou a recuperação de florestas após perturbações, é possível se as regulamentações ambientais e de terras forem implementadas efetivamente. Ao entender as condições sob as quais as florestas podem se recuperar, os formuladores de políticas podem desenvolver estratégias para proteger e restaurar esses ecossistemas vitais.
Os autores observam que a migração de árvores da Mata Atlântica brasileira não é apenas uma questão local, mas uma preocupação global. Como uma das regiões de maior biodiversidade da Terra, sua preservação é crucial para manter a saúde do planeta. A perda dessa floresta teria consequências de longo alcance, incluindo a perda do sequestro de carbono, erosão do solo e o deslocamento de comunidades indígenas.
“Este estudo mostrou o que está acontecendo no sul da Mata Atlântica, mas diferentes regiões podem mostrar outras tendências”, explicou a coautora do estudo, Dra. Adriane Esquivel Muelbert. “Estamos agora reunindo pesquisadores de todo o bioma para criar um grande quadro de como essas florestas estão respondendo às mudanças globais.”
MJ Banias cobre espaço, segurança e tecnologia com o The Debrief. Você pode enviar um e-mail para ele em mj@thedebrief.org ou segui-lo no Twitter @mjbanias.
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