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Pesquisadores da Universidade de Liège (Bélgica) descobriram uma nova população de macrófagos, importantes células imunes inatas que povoam os pulmões após lesões causadas por vírus respiratórios. Esses macrófagos são instrumentais no reparo dos alvéolos pulmonares. Essa descoberta inovadora promete revolucionar nossa compreensão da resposta imune pós-infecciosa e abre as portas para novas terapias regenerativas.
Os vírus respiratórios, que normalmente causam doenças leves, podem ter consequências mais sérias, como mostrado durante a pandemia de Covid-19, incluindo casos graves que exigem hospitalização e as sequelas crônicas da “Covid longa”. Essas condições geralmente resultam na destruição de grandes áreas dos pulmões, particularmente os alvéolos responsáveis pelas trocas gasosas. O reparo ineficaz dessas estruturas pode levar à SDRA ou a uma redução permanente na capacidade dos pulmões de oxigenar o sangue, causando fadiga crônica e intolerância ao exercício.
Embora o papel dos macrófagos durante a fase aguda das infecções virais respiratórias seja bem conhecido, sua função no período pós-inflamatório tem sido amplamente inexplorada. Um estudo do Instituto GIGA da Universidade de Liège revela que os macrófagos atípicos, caracterizados por marcadores específicos e recrutados transitoriamente durante a fase inicial de recuperação, desempenham um papel benéfico na regeneração dos alvéolos pulmonares.
Liderado pela Dra. Coraline Radermecker e pelo Prof. Thomas Marichal do Laboratório de Imunofisiologia, o estudo foi conduzido pela Dra. Cecilia Ruscitti e se beneficiou das plataformas tecnológicas avançadas da ULiège, incluindo citometria de fluxo, microscopia de fluorescência e sequenciamento de RNA de célula única. “Nossas descobertas fornecem um mecanismo novo e crucial para o reparo alveolar por esses macrófagos atípicos”, explica Coraline Radermecker. “Detalhamos suas características, origem, localização no pulmão danificado, os sinais que eles requerem para funcionar e seu papel na regeneração do tecido, atuando especificamente nas células epiteliais alveolares tipo 2, as progenitoras das células alveolares.” A comunidade científica havia ignorado esses macrófagos porque eles expressam um marcador que antes era considerado específico para outra população de células imunes, os neutrófilos, e porque eles aparecem apenas brevemente durante a fase de reparo antes de desaparecer.
“Nosso estudo destaca o papel reparador desses macrófagos, contrariando a ideia predominante de que macrófagos após infecções virais respiratórias são patogênicos”, acrescenta Thomas Marichal. “Ao mirar na amplificação desses macrófagos ou estimular suas funções de reparo, poderíamos desenvolver terapias para melhorar a regeneração alveolar e reduzir complicações de infecções respiratórias graves e SDRA.”
Para ilustrar, considere os pulmões como um jardim danificado por uma tempestade (infecção viral). Esses macrófagos recém-descobertos agem como jardineiros especializados que limpam detritos e plantam novas sementes, permitindo que o jardim cresça novamente e recupere sua vitalidade.
Este avanço científico ressalta a importância da pesquisa na Universidade de Liège e abre novos caminhos para o tratamento de doenças respiratórias.
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