Física

Agricultores brasileiros se preocupam com incêndios e seca

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Uma vista aérea do incêndio florestal no Parque Nacional de Brasília, Brasil, tirada em 15 de setembro de 2024

Vista aérea do incêndio florestal no Parque Nacional de Brasília, Brasil, tirada em 15 de setembro de 2024.

O produtor de cana-de-açúcar Marcos Meloni ainda está assombrado pela batalha travada no mês passado para combater as chamas em sua terra, enquanto o desastre de dois gumes de incêndios e seca atinge duramente o setor agrícola brasileiro.

“O espelho retrovisor do caminhão-tanque encolheu” com o calor intenso, lembrou o agricultor de Barrinha, no coração de uma grande área agrícola a 340 quilômetros de São Paulo.

“Achei que fosse morrer ali.”

A pior seca do Brasil em sete décadas tem provocado incêndios em todo o país nas últimas semanas, devastando a floresta amazônica, deixando onças com queimaduras no Pantanal e sufocando grandes cidades com fumaça.

O vital setor agrícola do país também está sofrendo, com as colheitas de cana-de-açúcar, café arábica, laranja e soja — das quais o Brasil é o principal produtor e exportador mundial — em risco.

E há pouca esperança de uma reviravolta rápida, com menos chuva prevista para outubro do que a média.

Na principal região produtora de açúcar do país, no estado de São Paulo, cerca de 230.000 hectares dos quatro milhões de canaviais da área foram afetados em graus variados pelos incêndios.

Metade das plantações danificadas ainda não foram colhidas, de acordo com a União Brasileira da Indústria de Cana-de-Açúcar.

“Onde a cana ainda estiver de pé, esperamos que o rendimento (de açúcar) caia pela metade”, disse José Guilherme Nogueira, CEO da Organização das Associações dos Produtores de Cana-de-Açúcar do Brasil.

Morador próximo ao Parque Nacional de Brasília combate incêndio florestal que assola o parque para que não atinja casas em Brasília, Brasil, em 15 de setembro de 2024

Um morador próximo ao Parque Nacional de Brasília combate o incêndio florestal que assola o parque para que ele não atinja casas em Brasília, Brasil, em 15 de setembro de 2024.

‘O solo não tem água’

Meloni já havia terminado sua colheita, mas sua terra sofreu danos significativos.

“Queimou onde havia brotos, que já estavam com dificuldade de sair por falta de água. Agora temos que ver onde teremos que replantar.”

No sudeste de Minas Gerais, onde se cultiva 70% do café arábica brasileiro, os cafeicultores também aguardam ansiosamente as chuvas necessárias para estimular seus arbustos a florescer e formar os grãos de café que serão colhidos no ano que vem.

“O solo está sem água. É o pior déficit hídrico dos últimos 40 anos”, lamentou José Marcos Magalhães, presidente da Minasul, segunda maior cooperativa de café do país.

Até o final do mês, “precisamos de chuvas de boa intensidade para esperar ter uma colheita normal” em 2025, disse ele.

O mau tempo já atrapalhou a colheita de 2023-2024, que está chegando ao fim.

Em maio, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), órgão público, previu um aumento de 8,2% na produção de arábica, mas essas previsões “provavelmente serão revisadas para baixo”, disse Renato Ribeiro, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo.

  • Veículos são envolvidos pela fumaça do incêndio que atinge o Parque Nacional de Brasília, em Brasília, em 16 de setembro de 2024

    Veículos trafegam por uma estrada coberta de fumaça do incêndio que atingiu o Parque Nacional de Brasília, em Brasília, em 16 de setembro de 2024.

  • Uma vista aérea do incêndio florestal no Parque Nacional de Brasília, Brasil, tirada em 15 de setembro de 2024

    Vista aérea do incêndio florestal no Parque Nacional de Brasília, Brasil, tirada em 15 de setembro de 2024.

A indústria agrícola deve ‘abrir os olhos’

A seca também está afetando os produtores de laranja, cujas frutas são destinadas principalmente à indústria de sucos.

A associação brasileira de produtores de citros Fundecitrus espera um declínio de quase 30% na produção, agravado por uma doença bacteriana que assola as laranjas do país.

A Conab prevê que a produção de soja cairá 4,7% em decorrência da seca do ano passado e das grandes enchentes ocorridas em abril e maio no estado do Rio Grande do Sul.

A seca deste ano atrasou o plantio para a próxima colheita.

“Se o clima melhorar, os produtores de soja poderão compensar esse atraso”, disse Luiz Fernando Gutierrez, analista da empresa Safras e Mercado.

“Mas se a seca continuar até outubro, poderá haver problemas na colheita” em 2025.

O setor agrícola brasileiro é o mais afetado pelas mudanças climáticas, mas também tem alguma responsabilidade por seus problemas, disse o climatologista Carlos Nobre.

“Este é o setor que mais emite gases de efeito estufa no Brasil. Ele precisa reduzi-los e acabar com o desmatamento. Ele precisa abrir os olhos.”

© 2024 AFP

Citação: Agricultores brasileiros se preocupam com incêndios e seca (2024, 16 de setembro) recuperado em 16 de setembro de 2024 de https://phys.org/news/2024-09-brazil-farmers-fret-drought.html

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