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A doença de Chagas afeta aproximadamente 6 milhões de pessoas somente na América Latina e é uma das principais causas de morte nessa região. Essa doença infecciosa, também chamada de Tripanossomíase Americana, é causada pelo parasita Trypanosoma cruzi (T. cruzi). No entanto, apesar de estarem em contato com o parasita, as populações amazônicas dificilmente sofrem com a infecção chagásica. Este estudo teve como objetivo descobrir o porquê.
A pesquisa analisou os dados genômicos de 118 indivíduos contemporâneos de 19 diferentes populações da Amazônia para encontrar vestígios de adaptação genética ao ambiente da floresta amazônica.
“Focamos em encontrar evidências de seleção natural positiva relacionada a doenças tropicais nas Américas”. Aponta Tábita Hünemeier, pesquisadora principal do Instituto de Biologia Evolutiva (IBE-CSIC-UPF) que liderou o estudo.
Por meio da análise dos genomas, o estudo encontrou uma variante de alta frequência do PPP3CA gene nos habitantes da Amazônia que poderia ser responsável por essa resistência. Para verificar sua eficácia, foram realizados estudos funcionais em laboratório. Desta forma, o estudo descobriu que a variante do PPP3CA gene reduz o risco de infecção pelo patógeno chagásico.
Estudos funcionais sobre a ação imunológica do PPP3CA gene contra o parasita de Chagas
O PPP3CA códigos genéticos para uma proteína chave na ativação de células imunes, a resposta imune inata e a internalização do T.cruzi parasita em células humanas. Este estudo detectou uma variante desse gene de forma bastante abundante em populações amazônicas que se expressa no tecido cardíaco e nas células imunes.
O estudo realizou estudos funcionais com tecido de células cardíacas usando células-tronco, algumas das quais continham o PPP3CA variante genética encontrada em alta frequência em populações amazônicas. Os resultados mostraram que há menos internalização do parasita nas células cardíacas quando elas apresentam a variante do gene.
“A presença da variante do gene PPP3CA pode ser a causa de uma doença mais branda ou menos infecção nessas populações.” Acrescenta David Comas, professor de Biologia do Departamento de Medicina e Ciências da Vida (MELIS) da UPF, pesquisador principal do IBE (CSIC-Pompeu Fabra University) e coautor da pesquisa.
Seleção natural positiva na população amazônica devido a um patógeno
Os resultados do estudo estimam que a seleção natural para resistência à doença de Chagas começou há 7.500 anos, depois que a população amazônica se separou das populações andinas e da costa do Pacífico.
Apoiada em estudos anteriores com amostras de 9.000 anos, a pesquisa conclui que as epidemias teriam selecionado positivamente os indivíduos com maior resistência a doenças tropicais, como a doença de Chagas, gerando uma resistência única nessa população.
Adaptações genéticas comportamentais à vida na selva
Além disso, o estudo encontrou adaptações genéticas associadas a características comportamentais como “comportamentos de busca de novidades”, uma característica genética que determina a busca por novas experiências. Segundo o estudo, essa característica pode ter sido crucial para o estilo de vida caçador-coletor das populações amazônicas no passado, pois permitia que explorassem novos territórios e buscassem recursos.
Traços cardiovasculares e metabólicos
O estudo também detectou características cardiovasculares e metabólicas condizentes com a predominância genética observada em pesquisas anteriores, uma vez que já havia sido detectado 66% de obesidade, diabetes e doenças coronarianas em algumas populações amazônicas.
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