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Milícias armadas no Brasil têm enorme influência sobre o destino da Amazônia – e o clima global

O futuro da agenda ambiental está em rota de colisão com o passado violento do Brasil, como ilustraram recentemente os assassinatos do especialista indígena brasileiro Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips.

Três homens que pescavam ilegalmente no Vale do Javari, uma parte da Amazônia brasileira perto da fronteira com o Peru, foram acusados ​​​​de assassinar Pereira e Phillips. Grupos armados em áreas remotas e sem lei da Amazônia são um assunto pouco estudado simplesmente porque são muito perigosos para pesquisa. Mas suas atividades são de importância global.

A rica biodiversidade da Amazônia é fundamental para regular os níveis de água e oxigênio da Terra e compensar as emissões de gases de efeito estufa provocadas pelo homem que impulsionam a crise climática. Mas apesar da importância desta região para o mundo inteiro, o que se passa aqui permanece fora da vista e da mente da maioria.


Aqueles com a visão mais clara são os povos indígenas em territórios indígenas designados, que compreendem 22,1% da Amazônia brasileira, e áreas naturais protegidas que compõem outros 23,6% e são nominalmente excluídos do desenvolvimento por empresas e outras formas de iniciativa privada.

As comunidades indígenas em florestas desprotegidas (cobrindo 56,3% da região) viram a terra e a vida selvagem devastadas nas últimas décadas pela pesca ilegal, desmatamento e extração mineral. Agronegócios, mineradoras, pescadores, incorporadoras e madeireiras avançam agora nos territórios indígenas e áreas protegidas remanescentes para explorar ouro inexplorado, minérios, peixes e solos férteis.

Na campanha eleitoral de 2018, Jair Bolsonaro afirmou: “Nem um centímetro de terra será demarcado para reservas indígenas”. Desde que assumiu o cargo, seu governo enfraqueceu as proteções indígenas e ambientais e reduziu a fiscalização.

Também apoiou o projeto de lei 490/2007 que, se aprovado, impediria as comunidades indígenas de obter o reconhecimento legal de terras tradicionais se não estivessem presentes nelas antes de 6 de outubro de 1988.

O projeto de lei impediria os povos indígenas de reivindicar terras adicionais para expandir territórios designados e dotar o governo do poder de remover reservas que decidisse não serem mais necessárias para a sobrevivência cultural de um grupo indígena, ou para fins que considerasse no interesse nacional, como construir bases militares ou estradas.

Enquanto muitos condenam Bolsonaro, atribuir o destino da Amazônia às ações de um governo ignora uma história mais longa de apropriação de terras e violência relacionada a recursos no brasil. Já no século XVII, bandeirantes (expedições de caça a escravos comandadas por elites empresariais portuguesas) rumaram para o oeste em busca de povos indígenas para escravizar. Depois, usavam seu trabalho para extrair e transportar ouro, prata e diamantes.

Servas do desmatamento

Com a ajuda de milícias e máfias, a grilagem de terras e a exploração de recursos continuam hoje em formas menos evidentes. De acordo com estudos e relatórios de todo o Brasil, incluindo a periferia do Rio de Janeiro, Manaus e Belém, redes soltas de agentes de segurança ou pessoas com armas, às vezes ligadas ao Estado brasileiro, usam a violência para garantir que atividades ilícitas como a extração ilegal de madeira continuem apesar das leis que os proíbem.

Líderes indígenas brasileiros protestam contra a morte de Paulo Paulino Guajajara, morto em uma emboscada com madeireiros ilegais em 2019. EPA-EFE/Olivier Hoslet

Aqueles que praticam a violência não costumam ser os principais beneficiários econômicos de seu trabalho, no entanto. De acordo com a caracterização do professor Vivieiros de Castro, antropólogo brasileiro, eles tendem a ser “homens miseráveis, violentos e desesperados” com poucas opções. . Respondendo a perguntas recentes sobre Pereira e Phillips, o presidente Bolsonaro comparou a incapacidade do estado de proteger vidas na Amazônia à entrada em uma favela do Rio de Janeiro, dizendo que “não havia como garantir a segurança das pessoas que vão para a região”.

Mas estudos mostraram como legisladores e tomadores de decisão no governo podem ser cúmplices da violência das milícias e da máfia. Um artigo documentou como a retórica política pode minar a legitimidade das reivindicações indígenas à terra. Também mostrou como a substituição de técnicos especializados em órgãos ambientais estaduais por agentes militares não especialistas pode levar ao atraso ou obstrução dos processos formais de resolução de conflitos sobre disputas de terras.

com interesses econômicos na Amazônia são mais propensos a se sentirem encorajados a usar a violência. O status informal dos grupos armados e sua capacidade de infligir violência em áreas remotas é particularmente útil para empresários e políticos interessados ​​em explorar a riqueza material da região.

Front Line Defenders, uma organização irlandesa de direitos humanos, afirmou que 27 pessoas foram mortas defendendo territórios indígenas e protegidos no Brasil somente em 2021. Muitas outras mortes provavelmente não serão relatadas.

As ameaças contra os defensores do meio ambiente são aparentemente insuperáveis ​​quando compreendidas dentro da prolongada história violenta do Brasil, mas sua situação é a do mundo. Cientistas alertaram recentemente que 75% da floresta tropical se tornou menos resistente ao estresse, como secas prolongadas, pois o clima aqueceu e secou desde 2000.

Inaugurada por homens violentos, esta situação é agravada pela mineração, exploração madeireira e pesca ilícitas, sendo os mais afastados da linha de frente os mais beneficiados.

 

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