Estudos/Pesquisa

A prevenção do desperdício alimentar na Europa pode gerar grandes poupanças na pegada ecológica

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Uma nova investigação mostra que o consumo alimentar europeu depende desnecessariamente e excessivamente dos recursos globais, razão pela qual os investigadores apelam à acção política. Muitos dos alimentos consumidos na Europa são produzidos em países fora da Europa. A perda de alimentos – e o desperdício numa fase posterior da cadeia (leia mais sobre os termos de desperdício abaixo) – ocorre ao longo da cadeia de abastecimento alimentar, desde o sector agrícola primário na Europa ou no resto do mundo, até alimentar bocas na Europa.

“Reduzir para metade a perda e o desperdício alimentar na Europa, juntamente com uma redistribuição dos recursos alimentares globais, poderia resolver os desafios da escassez alimentar no mundo”, afirma Marianne Thomsen, líder de investigação e professora de sistemas alimentares sustentáveis ​​no Departamento de Ciência Alimentar da Universidade. de Copenhague (UCPH FOOD).

É por isso que os países devem investir em soluções para reduzir a perda e o desperdício de alimentos em todas as fases da cadeia de abastecimento alimentar, acredita Marianne Thomsen.

Ganhos com a redução da perda e desperdício de alimentos

Os cálculos dos cenários dos investigadores mostram o que acontecerá se reduzirmos para metade a perda e o desperdício de alimentos ao longo das cadeias de abastecimento alimentar associadas ao consumo alimentar na Europa. Reduzir para metade a perda e o desperdício de alimentos nas cadeias de abastecimento alimentar da Europa equivale a poupar 8% das emissões de gases com efeito de estufa causadas pelo consumo de alimentos na Europa, juntamente com uma poupança associada de 6% de áreas agrícolas e 6% de áreas de pastagem – o que equivale globalmente a 12% de áreas agrícolas – já que as áreas de pastagem são utilizadas para a pecuária. Além disso, há uma poupança de 7% do consumo de água e de 14% da energia incorporada na produção alimentar para os cidadãos da Europa (ver também os cálculos abaixo).

Marianne Thomsen aponta a monitorização e a notificação da perda e desperdício de alimentos por todos os intervenientes ao longo da cadeia de abastecimento alimentar como um importante instrumento político.

“Tal instrumento político pode, apoiado por outros tipos de instrumentos políticos, ser um forte incentivo para as empresas e o resto da sociedade investirem tempo e dinheiro em novas tecnologias e colaboração para evitar a perda e o desperdício de alimentos, fechando o ciclo ao longo do abastecimento de alimentos cadeias dentro dos sistemas alimentares circulares locais”, diz ela.

Marianne Thomsen também dá alguns exemplos de onde o desperdício alimentar pode ser evitado:

“As empresas podem colaborar na inovação sustentável em simbioses circulares onde fluxos secundários são utilizados para a produção de ingredientes e produtos reciclados. Como outro exemplo, a indústria de serviços pode aplicar ingredientes reciclados produzidos a partir de excedentes alimentares no sector grossista, ao mesmo tempo que estimula os clientes pegar porções menores reduzindo o tamanho do prato”, explica.

Uma nova perspectiva sobre a pegada da Europa

Os inventários nacionais de emissões de gases com efeito de estufa baseiam-se na quantidade de gases com efeito de estufa emitidos por cada país a partir da produção de alimentos que ocorre dentro das suas próprias fronteiras geográficas. Os novos cálculos aplicam uma abordagem contabilística baseada no consumo. Isto inclui a pegada climática dos alimentos produzidos localmente e importados nos países europeus, excluindo os alimentos produzidos internamente e exportados para outros países. Nos cálculos dos cenários, os investigadores assumiram que a redução da perda e desperdício de alimentos ocorre através da prevenção, gerando uma redução na produção e fornecimento de alimentos para satisfazer o consumo alimentar europeu.

«Reduzir em 50% a perda e o desperdício de alimentos causados ​​pelo consumo de alimentos na Europa exige intervenção política e também que as intervenções políticas sejam adaptadas às circunstâncias nacionais e aos desafios regionais e locais específicos», afirma Marianne Thomsen.

Os cálculos mostram que existem grandes diferenças regionais que determinam o tipo de intervenção mais eficaz. Dito isto, os europeus ocidentais apresentam o maior potencial de poupança de pegada, especialmente França, Alemanha, Bélgica e Países Baixos. Mas também os países com um produto interno bruto mais baixo, como a Grécia, a Croácia, a Bulgária e a Roménia, têm um grande potencial para a prevenção do desperdício alimentar. O setor agrícola apresenta o maior potencial para reduzir a pegada climática, enquanto o maior potencial para poupar energia se encontra na indústria de serviços, que inclui cantinas, hotéis e restaurantes.

Terminologia de Resíduos

Num contexto internacional, a “perda de alimentos” ocorre do sector agrícola primário para a indústria de transformação alimentar e para o sector grossista, enquanto do sector retalhista para a indústria de serviços e famílias, referimo-nos ao “desperdício de alimentos”.

Os cálculos

Os cálculos baseiam-se na produção e no comércio mundial de alimentos em 2018. Ao reduzir em 50% a perda e o desperdício de alimentos resultantes do consumo alimentar europeu, podem ser alcançadas as seguintes poupanças na pegada com base no consumo:

51 milhões de toneladas equivalentes de CO2 (8%)

106.446 km2 de uso de terras agrícolas (6%)

55.523 km2 de uso de pastagens (6%)

4,6 mil milhões de m3 de poupança de água (7%)

131 terawatts-hora (0,47 exajoules) de economia de energia (14%)

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