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A coexistência entre humanos e elefantes tem sido marcada por tensões e, por vezes, por incidentes de violência. O aumento da superfície agrícola para combater os efeitos das alterações climáticas, a escassez de água e a diminuição das florestas poderão colocar os seres humanos e os maiores mamíferos terrestres em rota de colisão.
Estima-se que os elefantes precisem consumir até 150 quilos de comida e beber até 190 litros de água por dia. Por seu lado, os seres humanos cultivam alimentos em condições climáticas cada vez mais austeras, por exemplo aumentando as áreas de cultivo para compensar as perdas, o que muitas vezes significa converter florestas em campos agrícolas.
Como tal, à medida que os humanos se expandem cada vez mais para os habitats destes animais selvagens, os conflitos entre espécies podem tornar-se mais frequentes. Confrontos menos positivos poderão levar à destruição de colheitas e casas em áreas onde as comunidades humanas já enfrentam grandes dificuldades, bem como à morte de elefantes, cujas populações em África e na Ásia já estão sob grande pressão.
Num artigo publicado na revista PNAS, um grupo de investigadores tentou perceber se os efeitos das alterações climáticas poderiam exacerbar as interações homem-elefante.
Para fazer isso, conceberam modelos de previsão climática para ver como o aumento das temperaturas poderia levar a um aumento nas interações e potenciais conflitos entre humanos e elefantes, que competiriam pelos mesmos recursos de espaço, água e vegetação.
Concluíram que num cenário de menores emissões de gases com efeito de estufa e com uma agricultura mais sintonizada com o ambiente e, portanto, mais sustentável, os conflitos entre as duas espécies deverão permanecer “relativamente estáveis”, como descreveram num comunicado. Contudo, por outro lado, num mundo com mais emissões, áreas agrícolas mais quentes, mais secas e cada vez maiores, espera-se uma maior presença humana nos habitats dos elefantes, o que intensificará a competição e potencialmente aumentará o número de encontros violentos.
Mia Guarnieri, da Universidade da Califórnia e primeira autora do estudo, diz que a chave será compreender onde estão as maiores fontes de conflito. Só desta forma a prevenção poderá ser melhorada, com ganhos tanto para os humanos como para os elefantes e, claro, para os ecossistemas.
Os investigadores dizem que à medida que a crise climática se intensifica, os conflitos podem aumentar nas regiões da África Oriental e da Índia, locais do mundo onde se espera que a presença humana nos habitats dos elefantes cresça. Uma das principais causas do conflito é a destruição de colheitas por elefantes, o que muitas vezes leva a retaliações por parte dos agricultores e à morte de animais.
Podem ser implementadas medidas simples para dissuadir os elefantes de atacarem áreas agrícolas, tais como colocar colmeias em torno das vedações dos terrenos ou plantar pimentas em redor das culturas. Os elefantes têm medo dos primeiros e os últimos causam irritação em suas trombas, agindo como sistemas para manter esses mamíferos gigantes afastados.
Mas os cientistas dizem que é preciso fazer mais. Restaurar os habitats dos elefantes e os corredores ecológicos que utilizam para se deslocarem entre territórios é crucial para mantê-los afastados das populações humanas e promover, se não pacífica, uma coexistência menos conflituosa entre as duas espécies.
“Os elefantes estão realmente presos e existem apenas numa pequena parte da sua área de distribuição histórica”, afirma Patrick Rohrdans, da Conservation International e co-autor do estudo.
“À medida que as pessoas se aproximam cada vez mais do seu ambiente remanescente, mais conflitos ocorrerão se não planearmos o futuro.”
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