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As terras agrícolas abandonadas da Europa podem encontrar uma nova vida por meio da reintrodução da vida selvagem, um movimento para restaurar paisagens devastadas à sua natureza selvagem antes da intervenção humana. Um quarto do continente europeu, 117 milhões de hectares, está preparado com oportunidades de reintrodução da vida selvagem, relatam pesquisadores em 15 de agosto no periódico Cell Press Biologia Atual. Eles fornecem um roteiro para os países cumprirem as metas da Estratégia Europeia de Biodiversidade para 2030 de proteger 30% da terra, com 10% dessas áreas estritamente sob conservação.
A equipe descobriu que 70% das oportunidades de rewilding na Europa estão em climas mais frios. O norte da Europa — particularmente a Escandinávia, a Escócia e os estados bálticos — e várias regiões de terras altas na Península Ibérica mostram o maior potencial.
“Há muitas áreas na Europa que têm uma pegada humana baixa o suficiente, bem como a presença de espécies animais importantes, para potencialmente serem reintroduzidas na natureza”, diz o primeiro autor e biogeógrafo Miguel B. Araújo do Museu Nacional de Ciências Naturais, CSIC, Espanha, e da Universidade de Évora, Portugal. “Também destacamos a necessidade de estratégias diferentes dependendo das condições de cada região.”
Os pesquisadores estabeleceram critérios para determinar áreas com potencial de rewilding: grandes extensões de terra, cobrindo mais de 10.000 hectares, com pouca perturbação humana que apresentem espécies vitais. Com base no tamanho da terra e nos tipos de animais que habitam a área, eles identificaram ainda duas estratégias para rewilding — passiva e ativa.
A reintrodução passiva na natureza depende da recolonização natural, onde os animais gradualmente retornam para áreas abandonadas por conta própria. A abordagem funciona melhor em regiões com uma população saudável de herbívoros-chave, como veados, íbex, alces e coelhos, bem como carnívoros, como lobos, ursos e linces. Regiões sem espécies-chave de herbívoros ou carnívoros exigiriam a reintrodução ativa da espécie ausente para dar início à recuperação do ecossistema. Ambas as estratégias visam criar uma paisagem biodiversa e autossustentável.
“Costumo me referir aos herbívoros como engenheiros do ecossistema, pois eles pastam e moldam a vegetação, enquanto os predadores seriam os arquitetos que criam ‘paisagens de medo’ que os herbívoros evitam”, diz Araújo. “A interação entre herbívoros e carnívoros cria padrões de mosaico nas paisagens, essenciais para a biodiversidade.”
Alguns países, incluindo o Reino Unido, França, Espanha e nações escandinavas, estão posicionados para atingir suas metas de conservação se adotarem as zonas e estratégias de renaturalização sugeridas pelo estudo. No entanto, dado que a Europa é densamente povoada por humanos, outros países não atingiriam suas metas de conservação se confiassem somente nas recomendações do estudo, destacando a necessidade de abordagens alternativas de conservação. Esses países incluem Irlanda, Itália, Bélgica, Holanda e Dinamarca.
“Estratégias de conservação envolvendo restauração ecológica de áreas densamente povoadas podem ajudar alguns países a atingir metas de conservação”, diz Araújo. “Os países podem recuperar terras para transformá-las em áreas de conservação ou estabelecer redes de pequenos habitats protegidos. Paisagens tradicionais multiuso, como os parques de carvalhos na Península Ibérica e vários sistemas agrícolas e florestais extensivos pela Europa, também podem ajudar se forem geridas de forma sustentável.”
À medida que governos e organizações continuam a investir na conservação de terras, os pesquisadores esperam que suas descobertas e estrutura ajudem esses esforços a adquirir ou gerenciar áreas com o maior potencial para uma reintrodução bem-sucedida na vida selvagem. No entanto, apesar das perspectivas, os pesquisadores alertam que o tempo é essencial.
“Estamos correndo contra o tempo”, diz Araújo. “As áreas que parecem mais promissoras para a reintrodução da vida selvagem hoje podem não ser as mesmas em 50 anos devido aos impactos das mudanças climáticas.”
Este trabalho foi apoiado pela Fundação Portuguesa para a Ciência e Tecnologia, pelo Ministério da Ciência e Inovação espanhol e pelo Programa de Investigação e Inovação Horizonte Europa da União Europeia.
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