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Quem tem o voto empresarial do Brasil?

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A principal bolsa de valores de São Paulo do Brasil subiu na manhã seguinte ao primeiro turno das eleições presidenciais de 2022, quando o titular Jair Bolsonaro se saiu melhor do que o esperado contra seu rival de esquerda, Lula. Isso é um sinal de que os mercados financeiros preferem Bolsonaro? E a estreita distância entre os dois candidatos poderia levar Lula a moderar seu programa econômico?

Apenas 24 horas após o primeiro turno das eleições presidenciais de 2022 no Brasil, o mercado de ações de São Paulo, o B3 (Brasil, Bolsa, Balcão), subiu em seu maior ganho em um dia desde 6 de abril de 2020, uma alta pré-Covid-19 antes que a pandemia mergulhasse a nação sul-americana em uma crise econômica.

O titular, Jair Bolsonaro, foi muito melhor do que o esperado no primeiro turno de 2 de outubro, ficando apenas cinco pontos atrás de seu adversário de esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva. Nas eleições legislativas, o partido de Bolsonaro conquistou o maior número de cadeiras nas duas câmaras do Congresso.

Alguns investidores e analistas de mercado começaram a sussurrar que Bolsonaro poderia reverter a situação e vencer. “Ele finalmente teria a maioria necessária para realizar reformas mais concretas e muito melhores para a economia do país”, disse Antoine Skaf, diretor do fundo de investimento Witpar.

Em 2018, Skaf votou “em oposição à esquerda”. Quatro anos depois, o jovem financista de São Paulo volta a votar em Bolsonaro, apesar das declarações muitas vezes controversas do presidente brasileiro sobre várias questões.

“Apesar das bobagens que ele faz de vez em quando, ele provou que sabe como conduzir seu navio. Paulo Guedes é o melhor ministro da Economia que já tivemos e tem tido resultados muito bons”, disse Skaf, referindo-se ao ministro da Fazenda, cofundador do banco que também foi assessor econômico de Bolsonaro na campanha de 2022.


Bolsonaro, o ultraliberal

Para Skaf, a lista de sucessos de Bolsonaro é longa. Isso inclui a difícil reforma da previdência implementada e que, segundo ele, transformará a economia brasileira nos próximos 20 anos, privatizando muitas empresas e filiais do setor público, e a gestão mais flexível da Petrobras, a gigante petrolífera nacional. Skaf se saiu bem nos últimos quatro anos e seu fundo se beneficiou muito, explica ele, de investimentos estrangeiros recordes que entraram no mercado brasileiro.

As frequentes ameaças de Bolsonaro contra as instituições democráticas do país, ele acredita, não necessariamente assustam os mercados financeiros, que gostam tanto de estabilidade. É “porque ele os ameaça, mas não segue em frente. Suas ações são muito mais contidas do que suas palavras, o que é tranquilizador na prática. Sua política ultraliberal é nossa garantia”, sustentou Skaf.

Para o economista André Calixtre, os números econômicos são os mesmos, mas contam uma história bem diferente. “Se você olhar para os fundos de pensão europeus, os fundos verdes, que são mais estruturados do que os investimentos de curto prazo, eles diminuíram muito. Dizer que os investimentos atingiram recordes com Bolsonaro é errado. Talvez tenham no curto prazo, o que permitiu que os traders ganhassem dinheiro rapidamente, mas é um sucesso muito efêmero, que não prova a estabilidade do mercado brasileiro no longo prazo”, explicou.

Calixtre, cofundador da ‘Bolsa Família‘, um esquema de previdência criado pelo primeiro governo Lula em 2004 para as famílias mais pobres, é muito crítico do balanço de Bolsonaro. Quando a pandemia de Covid-19 atingiu o país e agravou a crise econômica mundial, criticou Bolsonaro por ter copiado Lula com seu ‘Auxílio Brasil‘, o programa de assistência social do governo Bolsonaro que substituiu Bolsa Família. Quase 20 milhões de brasileiros tiveram direito a Auxílio Brasil, no valor de cerca de 100 euros mas que, ao contrário do seu antecessor de esquerda, não vinha com direito a apoios sociais, educativos ou de saúde.


“Ele queria parecer um novo campeão dos pobres, dando um único benefício por família. Mas, na realidade, ele fez isso muito tarde e mal, sem aumentar os salários, sem uma política real de combate à inflação”, disse Calixtre. Hoje, “a percepção de pobreza e fome é muito maior”, acrescentou.

Claudio Amitrano passou os últimos quatro anos analisando a gestão econômica do presidente, e os resultados também não rendem elogios. “Jair Bolsonaro poderia ter tomado medidas econômicas mais rápidas para reduzir o impacto da pandemia. Ele os levou muito tarde. Ele deveria ter cortado os juros mais rápido, baixado os impostos das empresas mais rápido para que produzam mais rápido e desacelerado a inflação… ele subestimou a pandemia e custou caro ao Brasil”, disse Amitrano.

A Strong Business School de São Paulo decidiu comparar os balanços econômicos dos dois candidatos ao final de seus respectivos primeiros mandatos. Mesmo que os contextos econômicos sejam muito diferentes – inflação recorde na era Lula e pandemia na era Bolsonaro – o índice nacional de preços ao consumidor registrou queda de 0,29% na inflação pelo terceiro mês consecutivo, e a taxa de desemprego caiu mais mais de 1% desde o último mandato de Lula, caindo abaixo da marca de 9%. Uma vitória fraca, portanto, para o presidente em exercício.

Mas Lula faria melhor? Os programas econômicos dos dois candidatos presidenciais ainda não são claros, com informações repassadas à imprensa e depois afogadas em uma enxurrada de notícias falsas. Questionado sobre quem seria seu ministro da Fazenda, Lula não respondeu durante o último debate presidencial transmitido ao vivo no domingo, 16 de outubro.

O ex-presidente do Brasil e candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente do Brasil e candidato à reeleição Jair Bolsonaro falam durante um debate presidencial antes do segundo turno, em São Paulo, Brasil, 16 de outubro de 2022. REUTERS/Mariana Greif
O ex-presidente do Brasil e candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente do Brasil e candidato à reeleição Jair Bolsonaro falam durante um debate presidencial antes do segundo turno, em São Paulo, Brasil, 16 de outubro de 2022. REUTERS/Mariana Greif © Mariana Greif, Reuters

‘A ameaça comunista’

A “ameaça comunista” descrita pela extrema direita é apenas uma ilusão, segundo muitos especialistas brasileiros. Lula tem um histórico de presidente com uma política econômica moderada que, segundo Calixtre, tranquilizaria os mercados. A eleição de Lula seria antes de tudo um baluarte “regulatório” contra a maioria da direita no Congresso, acredita. Implicaria um equilíbrio de poder que levaria as negociações de volta ao centro, disse o economista, acrescentando que “o centro sempre tranquilizou os mercados financeiros e os investidores”.

Amitrano simplesmente ri da “ameaça comunista” de Lula. “Ele é retratado como um esquerdista malvado que vai arruinar o país, mas não podemos esquecer que o presidente Lula teve uma política fiscal bastante ortodoxa. Sob seus governos, as receitas tributárias superaram as despesas, os investimentos privados cresceram… sua gestão econômica foi muito conservadora. E esse passado também é reconfortante.” Sua aposta é que o programa de reindustrialização do país, uma das políticas econômicas de Lula, atraia os mercados.

Lula, um ativo internacional

Sob a presidência de Lula, de 2003 a 2011, o Brasil subiu para o posto de sexta maior potência mundial, com um boom de parcerias comerciais com Europa, China e África. Bom diplomata, soube vender o Brasil e suas riquezas. No entanto, sob Bolsonaro, a imagem do país sofreu um golpe, isolando-o no cenário internacional.

“Lula poderia restaurar a imagem do nosso país nos mercados internacionais”, afirmou Calixtre. Nas últimas semanas, muitos ex-presidentes do Banco Central do Brasil anunciaram publicamente seu apoio ao ex-presidente de esquerda. Para alguns economistas do IPEA, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada do governo federal, que não podem falar oficialmente em período eleitoral, Lula poderia se beneficiar de sua política ambiental porque proteger a Amazônia e a economia é uma boa aposta. Ao anunciar que aumentará o orçamento para organizações que protegem a Amazônia, que foram torpedeadas por Bolsonaro, eles acreditam que Lula atrairá fundos de investimento “verdes” para compensação de carbono e remuneração pela conservação da floresta tropical.

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