.
Emitida em:
Os brasileiros votam no domingo em um segundo turno presidencial polarizado que coloca um candidato que promete proteger os valores cristãos conservadores contra um ex-presidente que promete devolver o país a um passado mais próspero.
O segundo turno se formou como uma disputa acirrada entre o presidente Jair Bolsonaro e seu inimigo político, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ambos são figuras políticas bem conhecidas e divisivas que despertam tanto a paixão quanto o ódio.
A votação determinará se a quarta maior democracia do mundo mantém o mesmo rumo da política de extrema-direita ou devolve um esquerdista ao cargo mais alto – e, neste último caso, se Bolsonaro aceitará a derrota.
Espera-se que mais de 120 milhões de brasileiros votem, mas como a votação é realizada eletronicamente, o resultado final geralmente está disponível poucas horas após o fechamento das urnas no final da tarde. A maioria das pesquisas de opinião deu vantagem a Lula, universalmente conhecido como Lula, embora analistas políticos concordem que a disputa ficou cada vez mais acirrada nas últimas semanas.
Durante meses, parecia que Lula estava a caminho de uma vitória fácil ao despertar nostalgia por sua presidência de 2003-2010, quando a economia do Brasil estava crescendo e o bem-estar social ajudou dezenas de milhões a ingressar na classe média.
Mas no primeiro turno das eleições de 2 de outubro, Lula terminou em primeiro lugar entre os 11 candidatos com 48% dos votos, enquanto Bolsonaro ficou em segundo lugar com 43%, mostrando que as pesquisas de opinião subestimaram significativamente a popularidade do presidente. Muitos brasileiros apoiam a defesa de valores sociais conservadores de Bolsonaro e ele reforçou o apoio com grandes gastos do governo.
Os candidatos no Brasil que terminarem à frente no primeiro turno tendem a vencer o segundo turno. Mas o cientista político Rodrigo Prando disse que essa campanha é tão atípica que uma vitória de Bolsonaro não pode ser descartada. O presidente obteve o apoio de governadores dos três estados mais populosos, e políticos aliados conquistaram grandes vitórias nas disputas parlamentares.
“Politicamente, Bolsonaro é mais forte do que se imaginava”, disse Prando, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo. “Matematicamente, Lula está na frente.”
Doze disputas governamentais também serão decididas, entre elas o estado mais populoso do Brasil, São Paulo, Amazonas e nordeste da Bahia.
Mais de 150 milhões de brasileiros podem votar, mas cerca de 20% do eleitorado se absteve no primeiro turno. O Supremo Tribunal Federal emitiu uma decisão permitindo que as capitais dos estados forneçam transporte público gratuito no dia da eleição, e tanto Lula quanto Bolsonaro concentraram esforços em aumentar a participação.
Os candidatos apresentaram poucas propostas para o futuro do país, além de afirmar que darão continuidade a um grande programa de bem-estar para os pobres, apesar do espaço fiscal muito limitado daqui para frente. Eles protestaram uns contra os outros e lançaram campanhas de difamação online – com consideravelmente mais ataques vindos do campo de Bolsonaro.
Seus quatro anos no cargo foram marcados pelo conservadorismo proclamado e pela defesa dos valores cristãos tradicionais. Ele alegou sem qualquer evidência que o retorno de Lula ao poder levaria ao comunismo, drogas legalizadas, aborto e perseguição às igrejas.
Da Silva se concentrou no tratamento amplamente criticado de Bolsonaro na pandemia de Covid-19 e disse que o presidente não cuidou dos membros mais necessitados da sociedade. E ele pintou Bolsonaro como um oponente da floresta amazônica, já que ele desfigurou as autoridades ambientais e presidiu um surto de desmatamento.
Em vídeos de campanha, Lula também apontou para Bolsonaro por estar por trás de uma política que direciona bilhões a legisladores para projetos de estimação em troca de apoio político. É referido como o “orçamento secreto”, devido à falta de transparência em torno dos usos finais do dinheiro, e da Silva disse que esgotou os fundos para os principais gastos sociais.
Mas para muitos, o histórico do Partido dos Trabalhadores de Lula é igualmente desanimador. Uma extensa investigação revelou o envolvimento do partido em vastos escândalos de corrupção que enredaram os principais políticos e executivos.
O próprio Da Silva foi preso por 19 meses por corrupção e lavagem de dinheiro. A Suprema Corte anulou suas condenações em 2019, alegando que o juiz era tendencioso e conspirava com os promotores. Isso não impediu Bolsonaro de lembrar os eleitores das condenações. A possível eleição de Lula seria como deixar um ladrão voltar à cena do crime, alertou o presidente.
A tremenda mobilização digital do presidente esteve em evidência nos últimos dias, quando sua campanha apresentou novas – e não comprovadas – alegações de possível manipulação eleitoral. Isso reacendeu temores de que Bolsonaro pudesse contestar os resultados das eleições caso perdesse – assim como o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, a quem ele admira.
Durante meses, ele alegou que as urnas eletrônicas do país são propensas a fraudes, embora nunca tenha apresentado provas, mesmo depois que a autoridade eleitoral estabeleceu um prazo para ele fazê-lo.
Mais recentemente, as alegações se concentraram no tempo de antena para anúncios políticos. A campanha de Bolsonaro alegou que as estações de rádio deixaram de transmitir mais de 150.000 spots eleitorais e deu a entender que pode ter resultado de um esforço intencionalmente malicioso para prejudicar sua candidatura. A autoridade eleitoral se recusou a abrir uma investigação, alegando falta de provas.
“Não sabemos se esse resultado será contestado ou não, e até que ponto”, disse Carlos Melo, professor de ciência política da Universidade Insper, em São Paulo. “É um segundo turno muito difícil e um domingo muito tenso, e as tensões podem continuar além de hoje.”
(AP)
.