Volto minha atenção para Dublin, onde encontro Fabian (nome fictício), um ex-moderador que, até o início deste ano, trabalhava para o Twitter por meio da empresa terceirizada CPL. Ao contrário de outro moderador com quem conversei e que trabalhava para o Twitter, ele se lembra de ter visto contas que a empresa rotulou internamente como “suspeitas”. Ele não sabe quem — ou o quê — rotulou esses tweets. “Acho que o sistema costumava fazer isso”, ele me disse. “Ou talvez haja uma equipe dedicada a isso.” Falando com ele, tenho certeza que alguém, em algum lugar, está moderando os bots do Twitter e que esse esforço é novo, começando apenas nos últimos anos.
Outra pista chega no final de agosto, enquanto estou nas férias de verão. Peiter Zatko (ou Mudge), ex-chefe de segurança do Twitter, decidiu se tornar denunciante e enviar um relatório que encomendou de uma empresa independente ao Congresso dos EUA. O documento nomeia as equipes internas do Twitter responsáveis pelo spam e outras tentativas de “manipular” a plataforma na época – uma se chama Site Integrity, a outra Health e Twitter Services (duas equipes que o Twitter fundiu desde então). Outra linha no relatório salta para fora. Diz: “A moderação de conteúdo é terceirizada para fornecedores, a maioria dos quais está localizada em Manila.”
O Twitter há muito tempo usa empresas de terceirização para contratar pessoas nas Filipinas para remover material de violência e abuso sexual do local. Mas eles poderiam moderar spam também? Na indústria, existem os grandes nomes reconhecíveis, como Accenture e Cognizant. Mas também existem empresas menos conhecidas, como a TaskUs, com sede no Texas. Eventualmente, me deparei com uma empresa da qual nunca ouvi falar: uma empresa sediada em Nova Jersey chamada Innodata. E pela primeira vez, começo a ouvir a descrição do trabalho “moderador de spam.”
Falo com um funcionário da Innodata que confirma que a empresa está moderando spam para o Twitter, embora ele esteja trabalhando outra equipe. Outro diz que esteve envolvido na “categorização” de contas falsas, algumas delas disfarçadas de times esportivos famosos. Ambos pedem que seus nomes e locais não sejam divulgados por medo de perder o emprego. De acordo com um anúncio de emprego recente, a Innodata tem cerca de 4.000 funcionários no Canadá, Alemanha, Índia, Israel, Filipinas, Sri Lanka, Estados Unidos e Reino Unido.
Pesquisando especificamente por moderadores da Innodata, finalmente encontro John, o funcionário que compartilha a foto da mulher de maiô. Ele explica que há 33 funcionários em tempo integral moderando spam para o Twitter e mais de 50 freelancers. Ele acredita que a Innodata não começou a moderar spam até março de 2021.
Todos os dias, John diz que analisa até 600 postagens e contas do Twitter em um aplicativo de terceiros chamado Appen, antes de sinalizar como “spam” ou “seguro”. (Appen é uma empresa australiana que usa uma força de trabalho global para treinar inteligência artificial usada por grandes empresas de tecnologia.) A maioria da equipe de John está sediada na Índia ou nas Filipinas, diz ele. Ele acredita que os tweets que ele enviou são selecionados por inteligência artificial treinada para procurar spam no Twitter antes de serem enviados para uma equipe de moderadores humanos.