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O herpes não é apenas desagradável, mas também pode, em alguns casos, ter complicações perigosas e consequências potencialmente fatais. No diário Angewandte Chemie, uma equipe de pesquisa introduziu agora uma abordagem completamente nova para o tratamento do herpes. Seu método baseia-se na inibição de uma enzima necessária para a liberação de partículas virais recém-formadas nas células infectadas.
Pouco antes de uma entrevista importante ou de um primeiro encontro antecipado – sempre quando você menos precisa – você sente um formigamento e uma coceira nos lábios. Uma olhada no espelho revela as primeiras bolhas: o herpes está de volta. A maioria dos adultos carrega o instigador em seus corpos porque, uma vez infectados, os vírus herpes simplex tipo 1 (HSV-1) se instalam nos gânglios nervosos. Eles permanecem no corpo durante toda a vida da pessoa, inativos na maior parte do tempo. Se o sistema imunológico estiver temporariamente enfraquecido, talvez por ansiedade ou estresse, excesso de luz solar, flutuações hormonais ou resfriado, pode ocorrer um surto. Isso é irritante e doloroso, mas geralmente inofensivo. No entanto, nem sempre é esse o caso: em alguns indivíduos imunocomprometidos ou recém-nascidos, podem haver consequências graves e por vezes potencialmente fatais. Complicações perigosas também representam uma ameaça se o vírus infectar os olhos ou o cérebro; por exemplo, o herpes da córnea é uma das principais causas de cegueira induzida por infecção. Os medicamentos antivirais podem reduzir as infecções por herpes, mas não eliminá-las totalmente.
Uma equipe da Universidade da Geórgia, Atenas (EUA), da Universidade de Illinois em Chicago (EUA) e da Universidade de Utrecht (Holanda), liderada por Deepak Shukla e Geert-Jan Boons, desenvolveu agora um método alternativo para o tratamento de herpes.
Os vírus HSV-1 acoplam-se aos sulfatos de heparano, moléculas que são feitas de muitas unidades de açúcar (sacarídeos) e são encontradas na matriz extracelular e nas membranas plasmáticas de nossas células. Uma vez ligados, os vírus podem entrar nas células. Nas fases finais da infecção, o vírus faz com que as células infectadas aumentem a produção de heparanase, uma enzima envolvida na remodelação da matriz extracelular. Ele separa os sulfatos de heparano da superfície da célula – um pré-requisito para a liberação dos vírus recém-produzidos na célula, para que possam se espalhar para outras células e tecidos. A ideia deste projeto é bloquear a heparanase.
A equipe sintetizou uma série de oligossacarídeos que possuem estruturas semelhantes às dos sulfatos de heparano, mas não são divididos pela enzima heparanase. Moléculas compostas por seis ou oito sacarídeos inibem fortemente a heparanase. Usando estudos computacionais complementares, a equipe conseguiu modelar a forma como esses oligossacarídeos estão dispostos na cavidade de ligação da enzima e determinar quais interações moleculares são responsáveis pela forte ligação. O tratamento de células da córnea infectadas com HSV-1 com os oligossacarídeos ativos teve o efeito de inibir a excreção induzida por vírus de sulfatos de heparano, reduzindo significativamente a propagação do vírus.
Além disso, a inibição da heparanase através dos novos inibidores pode impedir a migração e proliferação de células imortalizadas (isto é, células com crescimento celular descontrolado). Esta enzima tem sido fortemente implicada na metástase do câncer, sugerindo outra aplicação potencial para os inibidores no futuro.
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